ARTIGO”Você com mais idade!”

Dr. Julio Peres

O maior dos sofrimentos que as pessoas com mais idade apresentam é a solidão. Foi o
que mostrou uma recente meta-análise com 70 estudos envolvendo mais de 8 mil pessoas entre
55 e 100 anos, publicada no respeitado periódico JAMA. A solidão contínua em idosos tende a
evoluir para depressão, o que agrava as condições de saúde e amplifica significativamente os
sofrimentos até a morte.

Como aliviar esse sofrimento? Obviamente, a primeira resposta é: por meio da
convivência, companhia, visitas, passeios e relacionamentos presenciais. Contudo, infelizmente
pouca atenção tem sido dada nesse sentido às pessoas com mais idade, e não podemos
subestimar os exemplos transgeracionais e a nociva cultura da pressa, do descaso e
superficialidades que nos “empurram” ao adoecimento. Diante disso, cabe a reflexão: a maneira
que você se relaciona com os idosos e/ou cuida deles, especialmente os avós dos seus filhos
(seu pais), será provavelmente a maneira como você será cuidado por seus filhos e pessoas mais
jovens quando sua idade avançar.

Os profissionais da saúde mental, por outro lado, cada vez mais dirigem atenção ao
crescente grupo de pessoas com mais idade. São desafiadores os diagnósticos diferenciais nessa
população, porque a solidão e a depressão podem ser concomitantes a vários outros fatores,
como a desestruturação do núcleo familiar, distanciamento dos filhos, perda de entes queridos,
declínio cognitivo (demências), condições médicas, interações medicamentosas e limitações
físicas para funções que eram habituais anteriormente. É importante observar que, apesar da
disponibilidade cada vez maior de serviços especializados, a depressão que acomete grande
percentual dessa faixa populacional muitas vezes não é detectada ou mesmo tratada de forma
adequada.

A sucessão de perdas pode ganhar mais peso que os benefícios da sabedoria adquirida
na maturidade longeva, quando as abordagens complementares às visitas e a participação ativa
de familiares, amigos e colegas não acontecem. E quais são as tais abordagens complementares
indicadas à melhor qualidade de vida dos idosos? A despeito de nada substituir a potência
saudável da atenção afetuosa presencial, vale considerarmos as possibilidades adicionais abaixo,
respeitando os limites de cada indivíduo:

=> Pets, animais de suporte emocional e terapias de contato com animais: favorecem nutrientes
afetivos em relações de amor incondicional especialmente por parte dos pets. Foram
demonstrados maiores efeitos na redução da solidão dos idosos quando adotadas abordagens
em que se priorizou a presença de animais.

=> Religiosidade e Espiritualidade: Exercem um importante papel na manutenção da saúde
mental e prevenção da depressão das pessoas com mais idade. Além dos manejos positivos que
envolvem resiliência, busca de aprendizados, aliança com Deus, entre outros aspectos, a
congregação entre comunidades religiosas pode favorecer a noção de pertencimento diretamente
relacionada à saúde mental. Observo na minha prática clínica que, em especial, o enquadre
cognitivo de que a vida presente é parte do processo evolutivo que compreende sucessivas vidas
(reencarnação) tem se mostrado como manejo atenuante do sofrimento relacionado à suposta
finitude e à dor pela perda definitiva dos entes amados.

=> Musicoterapia: Tem sido cada vez mais utilizada em idosos e indivíduos com demências.
Estimula a comunicação por meio da linguagem musical, que envolve variados timbres, células
rítmicas, melodias e outros elementos que colaboram com a expressão de afetos positivos, a
regulação das emoções e o fortalecimento de memórias motoras (de procedimento), assim como
de memórias declarativas, considerando melodias e canções previamente conhecidas.

=> Terapia ocupacional: Por meio de oficinas, atividades lúdicas e artísticas em grupo (jogos,
pinturas, esculturas, artesanato, exercícios) e palestras, os profissionais auxiliam a retomada de
atividades diárias que foram prejudicadas tanto quanto possível, além de valorizar os resultados
das expressões individuais e do grupo, favorecendo a noção de pertencimento.

=> Intervenções sociais: Trazem resultados significativos para a melhora da autoestima e
sentido de pertencimento a comunidades e grupos. Contudo, as iniciativas de cunho social devem
prioritariamente respeitar as áreas de interesse do indivíduo para a adesão contínua a práticas
coletivas. As principais atividades podem acontecer em comunidades de filantropia, datas
comemorativas, ações de voluntariado, dança e jogos em centros comunitários, exercícios físicos
em grupo, comunidades religiosas/espirituais e clubes.

=> Exercícios físicos: Individuais ou em grupo, acompanhados por profissionais especializados
(personais), impactam na melhora da disposição, do tônus vital e do humor por meio da
segregação neuroquímica relacionada ao bem-estar (serotonina, dopamina), além do
fortalecimento muscular, do equilíbrio, da coordenação motora e da flexibilidade, que conferem
autonomia às atividades diárias. As atividades físicas que incluem a musculação orientada
diminuem a emersão de condições médicas (problemas cardiovasculares, diabetes, artrites, entre
outras), e mantêm a densidade óssea preventiva a fraturas por osteopenia e osteoporose.

=> Intervenções tecnológicas: A realidade virtual na forma de head-mounted displays (monitores
acoplados à cabeça) vem sendo cada vez mais utilizada como estratégia terapêutica no cuidado
de idosos, porém com resultados ainda inconsistentes, porque a náusea, efeito colateral do
procedimento, é reportada por muitos usuários. Um conjunto de reminiscências peculiares ao
indivíduo é mostrado no display visual, de maneira a proporcionar acesso e fortalecimentos de
memórias com valências emocionais positivas.

=> Terapêuticas medicamentosas: As regras farmacológicas inerentes à faixa etária e
interações conflituosas entre os medicamentos é um desafio clínico, mas, quando acertadas as
dosagens, esse recurso pode propiciar melhora da qualidade de vida das pessoas com mais
idade. Em geral os estudos mostram que os quatro fármacos mais utilizados por idosos são os
anti-hipertensivos, os antidepressivos ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina),
diuréticos e analgésicos, enquanto, para indivíduos com declínio cognitivo (demências), são
prescritos principalmente os inibidores da colinesterase, que aumentam a disponibilidade de
acetilcolina no cérebro.

=> Terapia de Reminiscências: Merece especial atenção. Também conhecida como Abordagem para Revisão de Vida, foi formulada para atender às necessidades das pessoas com mais idade, inclusive com declínios cognitivos de vários estágios. Envolve a recordação vocal ou silenciosa de eventos na vida de uma pessoa, seja sozinha ou com outra pessoa ou grupo de pessoas. Normalmente envolve a modalidade de reuniões de grupo, pelo menos uma vez por semana, em que os participantes são incentivados a compartilhar suas histórias autobiográficas e acontecimentos passados, muitas vezes auxiliados por recursos como fotos, músicas, objetos e vídeos. Infelizmente ainda npouco conhecida no Brasil, essa abordagem terapêutica psicossocial aumentou significativamente a função cognitiva e a qualidade de vida e reduziu os sintomas depressivos e neuropsiquiátricos entre pessoas com demência. Formulei um protocolo terapêutico multidisciplinar de reminiscências que envolve sessões individuais e em grupo com apoio de materiais autobiográficos para pessoas com declínios cognitivos.

A solidão e o isolamento social estão associados ao aumento da morbidade e mortalidade imersa em múltiplos sofrimentos. Conforme mostrei no meu recente livro “Razão & Prática: olhares terapêuticos sobre o significado e o uso das palavras”, as virtudes são o pavimento para uma vida saudável, longeva, e favorecem a construção de uma sociedade com significativa melhor qualidade, que todos merecemos. Portanto, cultive o amor, a bondade, a escuta, a
gentileza, a gratidão, o respeito e a solidariedade, com empatia pelas pessoas idosas. Sente-se bem, quem faz o bem!.

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Neurociência: as respostas do cérebro às emoções

Por Eliana Haddad

 

Julio Peres é psicólogo, doutor em neurociências pela USP e pós-doutor pela UNIFESP e pela Universidade da Pensilvânia (EUA). Referência em manejos terapêuticos relacionados à saúde mental e à qualidade de vida, foi pioneiro em pesquisas sobre os efeitos neurobiológicos da psicoterapia com métodos de neuroimagem. Suas contribuições sobre os mecanismos de superação traumática, sobre a integração da espiritualidade na prática clínica e as experiências mediúnicas, publicadas em respeitados periódicos científicos, impactaram a comunidade acadêmica, inclusive internacional. Autor do livro Razão & prática: olhares terapêuticos sobre o significado e o uso das palavras,Julio fala ao Correio sobre os avanços dos estudos da neurociências e sobre recursos terapêuticos para uma existência com mais equilíbrio.

Como as neurociências auxiliam a compreensão da atuação dos nossos sentimentos no nosso corpo físico? 

 

As neurociências têm trazido avanços significativos na compreensão de como nossos pensamentos, sentimentos e emoções são mediados pelo cérebro, que ‘informa’ nossos corpos sobre como proceder. As cascatas de reações fisiológicas são disparadas a partir de nossas percepções sobre como nos relacionamos com o mundo exterior e interior. Quando pessoas com transtornos ansiosos percebem a proximidade com um agente fóbico, os circuitos neurais associados à amígdala comunicam com o sistema nervoso autônomo, que responde de imediato, acelerando os ritmos cardíacos e respiratórios em descargas noradrenérgicas, configurando um estado de prontidão para ‘luta ou fuga’ em relação ao suposto agressor, como se o indivíduo estivesse próximo à iminência de morte. A continuidade de níveis elevados de estresse e ansiedade pode aumentar a produção de cortisol e causar efeitos prejudiciais sobre o sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a várias doenças. Tal excesso de cortisol se torna neurotóxico, isto é, pode danificar os neurônios, especialmente dos circuitos hipocampais, prejudicando a memória e o aprendizado. 

 

Por que e como a qualidade das nossas emoções interfere no funcionamento dos nossos neurônios?

 

Nossos sentimentos estão intimamente ligados à liberação de neurotransmissores e hormônios. Experiências emocionais positivas, como o amor e o contentamento, estimulam a liberação de oxitocina, dopamina e serotonina, que promovem sensações de bem-estar, vinculação social e pertencimento, contribuindo para a saúde geral. Estudos indicam que estados emocionais negativos recorrentes, como o medo, a raiva e aversões, podem aumentar os níveis de marcadores inflamatórios no sangue, impactando o adoecimento, às vezes com severidade. A inflamação crônica pode prejudicar a comunicação neuronal e está ligada a doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Por isso, além da psicoterapia, recomendam-se práticas que ‘tranquilizam’ o sistema nervoso central, como a empatia, o perdão, a oração, a gratidão, a tranquilidade, a meditação e a segurança, que estão associadas à redução da inflamação, à melhora da saúde e da qualidade de vida.

 

Em termos espirituais, qual o papel do autoconhecimento para uma vida mais saudável?

 

Ao reconhecer e compreender nossos pensamentos, emoções e comportamentos ofertamos a nós mesmos a preciosa oportunidade de escolhermos conscientemente por caminhos saudáveis, em vez de atuarmos com padrões inconscientes de comportamentos. Muitas dinâmicas de comportamentos patológicos foram aprendidas em situações específicas do passado. Serviram de alguma maneira para garantir a sobrevivência. Ao identificarmos as origens desses padrões negativos, podemos nos desidentificar do passado e fortalecer com exercícios terapêuticos diários os comportamentos alinhados à nossa evolução pessoal e espiritual. Esse processo de autoconhecimento, transformação íntima e comportamental promove naturalmente a saúde e o bem-estar longevos. Além disso, o autoconhecimento nos aproxima de nossos planejamentos espirituais para a presente encarnação e de nossa verdadeira essência para vivermos com propósitos autênticos e significativos.

 

A mudança de nossas atitudes, então, pode reformular a plasticidade do nosso cérebro, curando-nos de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e fobias?

 

Sim, a plasticidade neural é diretamente influenciada por nossas s, aprendizados, atitudes mentais e consequentes comportamentos. Estamos todos em processos de evolução espiritual por meio das vidas sucessivas. Nossos cérebros que medeiam as experiências como encarnados possuem a notável e divina capacidade de reorganização conforme nossas necessidades evolutivas, que chamamos de neuroplasticidade. Temos observado que as mudanças de nossas percepções, compreensões e atitudes relacionadas ao trauma por meio da psicoterapia remodelaram circuitos neurais associados à dor emocional e promoveram novos arranjos sinápticos e plasticidades correlacionados ao bem-estar. Vale lembrar que um dos principais fatores de resiliência se relaciona com a busca de significado e aprendizados decorrentes das adversidades e dores que todos enfrentamos. Assim como esse, outros fatores de manejo e superação de transtornos ansiosos e depressivos estão embutidos em nossa perspectiva de aprendizado para uma existência significativamente melhor, que também influencia os próximos mais próximos e distantes.

Nesses trinta anos de clínica em psicoterapia, o que você descobriu em relação à superação dos conflitos emocionais, no que se refere à interação corpo-mente? 

 

A intrínseca relação entre mente, corpo e espírito é uma realidade a ser considerada nos processos terapêuticos; caso contrário não haverá a construção do aprendizado por completo, mas a fresta para reincidência do sofrimento. Observamos melhoras significativas na percepção e na vibração espiritual ao reestruturarmos cognitivamente os padrões de pensamento disfuncionais que geravam sintomas de diversas magnitudes. O conhecimento claro e o cultivo das virtudes têm uma relação importante com os processos de aprendizados necessários à dissolução das dores emocionais. 

 

É sobre isso que você fala em seu novo livro?

 

Sim. No livro, apresento a origem etimológica das 26 palavras mais utilizadas em psicoterapias bem-sucedidas que indicam caminhos para se viver melhor. Procurei também abordar sobre as falsas crenças a respeito da competitividade e de outros fatores patogênicos com dados históricos e estudos antropológicos sobre os reais fatores que impactaram positivamente a humanidade. E falo sobre as virtudes. Elas estão em forma de aplicabilidade prática associada à saúde longeva. 

Uma das palavras que você analisa no livro é “resiliência”. Silenciar aumenta o peso dos sofrimentos?

 

Sim, a tentativa de silenciar a dor ao longo do tempo tende a aumentar a dimensão dos sofrimentos. Na maioria das vezes, leva ao isolamento, à solidão, à desesperança. A ausência da expressão e validação verbal podem amplificar ainda mais o sofrimento, dificultando o acesso à resiliência. A repressão das emoções pode levar a um acúmulo de tensões, assim como ao desenvolvimento de sintomas, como dores crônicas, fibromialgia, distúrbios do sono e até mesmo transtornos depressivos e ansiosos. A resiliência envolve a capacidade de reconhecer, verbalizar, enfrentar, processar e integrar as experiências dolorosas, permitindo que elas se transformem em aprendizados e crescimento saudáveis. Essa possibilidade é facilitada pela expressão verbal. A verbalização e o processamento das emoções reduzem a ativação da amígdala (área do cérebro associada ao medo) e aumenta a atividade no córtex pré-frontal, correlacionado à categorização da experiência e a regulação emocional. 

 

Qual o papel da vontade e do esforço do espírito para superar culpas ou eventos traumáticos?

 

Superar culpas e eventos traumáticos não é um caminho fácil, porque envolve o enfrentamento de memórias dolorosas para reconstrução da narrativa pessoal de maneira que faça realmente sentido. A determinação e o empenho pessoal são fundamentais ao crescimento após experiências difíceis. A disposição de olhar para dentro de si mesmo, confrontar os sentimentos dolorosos e tomar ações que promovam a transformação é um ato do coração, isto é, envolve coragem. O desejo e a intenção clara de promover mudanças destacam a energia necessária para a jornada de superação, que envolve um compromisso responsável com os cuidados pessoais para alcance do bem-estar.

 

O que há de novo nos estudos em neurociências e inteligência artificial? Seria possível reproduzir a consciência humana com os conhecimentos que a ciência reúne hoje? 

 

Considero que dissecar e reproduzir o irretorquível número de variáveis (personalidade, temperamento, emoções, representação e a articulação simbólica do conhecimento, inclinações idiossincráticas, coerência situacional, flexibilidade adaptativa, etc.) que compõem a identidade humana seja impossível. Muitas tentativas continuam, mas a engenharia computacional associada às neurociências não conseguiram criar o senso de individualidade carregado de emoções, temperamento, desejos e livre-arbítrio nos robôs de I.A., e que assim se tornariam supostas ‘criaturas’. A mais avançada complexidade computacional não contém os ingredientes da vida anímica, porque a consciência e seu funcionamento vão muito além das propriedades que obedecem aos princípios da física clássica. Lembramos que Penfield (1978), depois de seus estudos com estimulação elétrica do cérebro para mapear as funções corticais, advertiu que as redes neurais isoladamente não seriam capazes de produzir a consciência, afirmando: “A mente tem uma existência distinta do cérebro, embora esteja intimamente relacionada a ele. Não há local no córtex cerebral onde a estimulação elétrica fará o paciente decidir”. 

 

Em nosso estágio evolutivo, como podemos melhor aproveitar esta reencarnação com as descobertas apontadas pela neurociência?

Estudos populacionais sobre qualidade de vida mostraram que as pessoas com altos índices de cooperatividade, voluntariado, ao bem-estar de grupos e comunidades reportaram mais afetos positivos, bem-estar, felicidade e satisfação com a própria existência. As neurociências revelam que o bem-estar humano não é dirigido unicamente pelo resultado material, mas especialmente pela solidariedade, cooperação e bondade. Áreas do cérebro relacionadas ao contentamento, satisfação, são ativadas durante atitudes virtuosas, generosas, leais e de cooperação. Portanto, assim como os estudos sobre felicidade e qualidade de vida indicam, as neurociências evidenciam que “as pessoas que realmente se sentem bem, fazem o bem”.

 

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56% dos brasileiros nunca buscaram profissionais para lidar com ansiedade

 

Segunda edição de mapeamento sobre saúde mental no país mostra que índice chega a 65% entre homens; situação financeira é a maior preocupação.

Por Paula Felix 

13 jun 2024, 19h43 

 

O Brasil figura entre os países mais ansiosos do mundo, chegando a liderar o ranking no ano passado segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar disso, uma expressiva parcela da população não busca suporte para a saúde mental. De acordo com a segunda edição do “Panorama da Saúde Mental realizado pelo Instituto Cactus e AtlasIntel, 56% dos brasileiros afirmaram nunca ter procurado um profissional da saúde para lidar com transtornos de ansiedade. Entre homens, a situação é pior e o índice chega a 65%.

Os dados foram coletados no segundo semestre do ano passado por meio de um questionário on-line feito com 3.266 pessoas com mais de 16 anos de diferentes regiões do país. 

No questionário, foram feitas perguntas sobre sentimentos e pensamentos dos participantes, como o interesse ou prazer em realizar atividades, se tinham dificuldades para dormir, sensação de cansaço, dificuldade de concentração, lentidão, agitação, falta de apetite ou se estavam comendo em excesso. Uma escala de frequência ajudava a medir como esses eventos estavam impactando a rotina dos entrevistados.

 O relatório com a análise dos dados mostra quão ansiosos são os brasileiros e também os efeitos desse problema de saúde mental: 73% dos entrevistados se preocupam com assuntos diversos, dos quais 30% afirmaram que se preocupam quase diariamente. Ainda de acordo com os resultados, 68% disseram que se sentem nervosos, ansiosos ou muito tensos e 64% reportaram dificuldade para relaxar (cerca de um quarto reportou se sentir assim quase todos os dias). “

O índice possibilita um acompanhamento sistemático e global da saúde mental da população brasileira, informando aos tomadores de decisão e à sociedade como um todo sobre um assunto crucial, estigmatizado e ainda pouco abordado nos espaços público e privado”, diz, em nota, Maria Fernanda Resende Quartiero, diretora-presidente do Instituto Cactus. 

Além da ansiedade, apareceu a principal preocupação da população: 82% afirmaram que é a situação financeira. A consequência disso são problemas na hora de dormir. Segundo o levantamento, 56% perdem o sono por causa das preocupações, 71% dormem menos de 6 horas ao menos uma noite e 16% usam medicamentos para dormir com prescrição médica.

Para a pesquisa, foi calculado ainda o Índice Contínuo de Avaliação da Saúde Mental (ICASM), que determina o estado geral da saúde mental da população brasileira. De uma escala de 0 a 1.000, o ICASM brasileiro foi de 640 em uma avaliação que considerou três dimensões consideradas em pesquisas de saúde mental em nível global: confiança, vitalidade e foco. 

Ajuda para lidar com ansiedade O índice de brasileiros que nunca buscaram um especialista para lidar com a ansiedade foi de 55,8% com percentual de 65,4% de homens. “Ainda que pesquisas mostrem que homens são menos afetados por transtornos mentais que as mulheres, não podemos ignorar como as convenções sociais ainda tratam as queixas relacionadas a saúde mental como algo inversamente proporcional a masculinidade, o que pode contribuir para que menos homens procurem ajuda”, conclui o relatório. 

Psicólogo clínico e neurocientista, Julio Peres diz que os transtornos de ansiedade estão aumentando, principalmente nos centros urbanos, e que são condições que precisam de acompanhamento especializado, tanto em mulheres quanto em homens. 

“Ansiedade em uma palavra é medo e, dificilmente, os homens assumem seus medos. Há facetas da ansiedade, como o transtorno do estresse pós-traumático, do pânico e fobias específicas, e, caso não sejam cuidadas ou tratadas, podem se tornar crônicas e evoluir para doenças psiquiátricas. É um tema fundamental para a vida e para a qualidade da existencia”, alerta. 

 

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/saude/56-dos-brasileiros-nunca-buscaram-profissionais-para-lidar-com-ansiedade/  

https://veja.abril.com.br/saude/56-dos-brasileiros-nunca-buscaram-profissionais-para-lidar-com-ansiedade/#google_vignette )

 

Fruto Temporão

Fruto Temporão

O fruto temporão é o que nasce em difíceis condições, fora da época esperada, quando os nutrientes necessários ao desenvolvimento saudável são escassos. Nossa tendência ao vermos um fruto temporão é o elogio à linda referência que surge, quase como exclusividade. Contudo, de perto, observamos o tronco, os galhos e as folhas da árvore em que despontou o fruto precoce exauridos… Todos integrantes da árvore exprimem suas reservas para que um fruto vingue, isto é atinja a maturação. Mesmo assim, o fruto temporão 

não é tão bonito e saboroso, quanto os frutos da boa temporada. Existe uma sábia razão da Natureza para ocorrência deste fenômeno: esse fruto, antecipado ou tardio, igualmente carrega as sementes que serão liberadas ao se soltar da árvore e cair no solo. Assim, outras árvores da mesma espécie poderão eventualmente nascer em diferentes épocas do ano. O fruto temporão dá sua vida à possibilidade da melhor continuidade da vida de todos.   

Temporao 2

Podemos relacionar a metáfora do fruto temporão ao desenvolvimento humano saudável, com alguns cuidados adicionais, considerando as circunstâncias em que vivemos. A necessidade “plantada” na cultura da pressa, da competitividade para chegar na frente e sozinho, requer grande esforço isolado, não raro a extração da energia do entorno, e consequente, a degradação da qualidade da existência do conjunto. Assim como o fruto temporão, o destaque isolado às custas do entorno só compensaria, se a razão fosse a melhor continuidade da vida de todos. Caso contrário, a perda da vitalidade e o adoecimento fatal prevalecerão. Mais importante que chegar sozinho na frente, é chegarmos juntos ao florescimento. Os nutrientes ao desenvolvimento saudável estão disponíveis na Natureza se a respeitarmos como parte e extensão de nós mesmos. Podemos estar aqui conscientes, presentes, sem acelerar ou retardar o bom tempo… Nossas calmas e generosas atitudes diárias favorecerão a multiplicação dos saborosos frutos para todos e como decorrência, o progresso da Humanidade.  

Julio Peres
Fotos Julio Peres

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Passei por Três Hospitais até Chegar à Internação numa Casa de Saúde…

Relato de Marcela, 26 anos, musicista.

Devido a uma vida desregrada, alimentação inadequada e mistura de álcool com medicamentos, entre outras coisas, tive um surto (episódio onde a realidade se mistura com irrealidade). Eu, consciente, via tudo passar pela minha mente em altíssima velocidade, mas não conseguia falar nem reagir. Eu tentava fazer o sinal-da-cruz e meus braços não respondiam, comecei então a rezar várias vezes, numa repetição frenética, então tudo foi se aclarando.

Fui medicada e passei por três hospitais até chegar à internação numa casa de saúde. Eu continuava me sentindo sozinha, mesmo com família ou em grupos de amigos. Depois procurei por psicoterapia e há vários anos eu me sinto bem melhor! Durante o tratamento, os meus familiares estiveram sempre junto a mim e amigos de verdade não faltaram. Vivo normalmente, trabalho e estudo. Sei que durante toda a minha vida sempre existiu quem fizesse orações por mim. A todos e a Deus agradeço de coração. A religiosidade, herança materna e paterna que me acompanhava a vida inteira, fez muita diferença (e ainda faz) na boa vida que tenho…

Neurociência

Neurociência

Neurociência

repeat
5/5
A Perda Trágica, em Acidente de Carro, do meu Caçulinha com 19 Anos

A Perda Trágica, em Acidente de Carro, do meu Caçulinha com 19 Anos…

Relato de Antonia, 58 anos, empresária, viúva e mãe de três filhos.

A perda de uma pessoa querida é sempre um grande golpe. Perdi meu marido no auge da juventude e do nosso amor. Meu caçulinha tinha apenas três aninhos. Anos passaram… e há um ano, uma dor imensa tomou conta do meu coração… a perda trágica, em acidente de carro, do meu caçulinha com 19 anos. Arrancaram um pedaço de mim, fiquei sem chão, não sabia sequer para onde olhar…

Busquei caminhos de superação por todos os lados. Depois de 6 meses procurei por psicoterapia. A fé em Deus, a amada família, os amigos e os encontros com o Dr. Julio, quando tenho oportunidade de analisar e buscar respostas para minhas dores e dúvidas, estão me dando forças para seguir em frente. Sei que a dor não passará, mas o sofrimento diminui aos pou- cos… Hoje, quando me lembro dos momentos intensos e felizes que passamos juntos e ao lado dos meus outros dois filhos, às vezes… já consigo sorrir!

Fui Abusada Sexualmente por meu Pai na Infância…

Fui Abusada Sexualmente por meu Pai na Infância…

Relato de Márcia, 38 anos, advogada.

Fui abusada sexualmente por meu pai na infância. Minha mãe sempre soube, mas não me protegeu. Depois de muita hesitação, a pedido de meu médico procurei por psicoterapia. Confesso que fui sem muita convicção e certa que 2 ou 3 meses dariam conta do recado. Eu era uma pessoa travada, com sérios problemas de relaciona- mento, solitária, quase não sorria e me refugiava na música como forma de expressar uma sensibilidade que não conseguia partilhar com ninguém.

Sempre distante das pessoas, eu me definia como um “zumbi”. Realmente, foi preciso bastante tempo para digerir e superar esse estado. Fiquei em terapia por quase 2 anos… Hoje posso afirmar com segurança que sou uma pessoa mais leve, mais tranquila, mais relaxada com as pessoas, com as quais já consigo me relacionar de forma saudável e, sem dúvida nenhuma, uma pessoa mais feliz.

Sei que tenho um longo caminho pela frente, já que superação é ato que deve ser exercitado diariamente e que o autoconhecimento é ferramenta essencial para meu aprimoramento… Se hoje sou uma pessoa melhor e mais feliz, devo à minha persistência em enfrentar o trauma e as dificuldades dele decorrentes e, também, à psicoterapia, que sempre será lembrada por mim com muita gratidão e carinho.

DENUNCIE

Meu Filho após um Surto Decorrente do Uso de Skank

Meu Filho após um Surto Decorrente do Uso de Skank…

Relato de Roberto, 54 anos, empresário, casado e pai de dois filhos.

Meus entes mais amados viviam próximos a mim, porém distantes. A família estava fragmentada sem que eu percebesse isso, envolvido pela dinâmica intensa do trabalho, até o trauma acontecer. Meu filho esteve no exterior por 11 meses com o propósito de adquirir experiência e aperfeiçoar a língua estrangeira. Trouxe em sua bagagem muita dor, pela permanência obrigatória em hospital psiquiátrico após um surto decorrente do uso de skank (supermaconha) associado à bebida alcoólica destilada.

Ficamos unidos nos 3 meses de internação fora do país, porém com pouco acesso ao meu filho. Ele não estava bem e foi terrível imaginar o que se passava do outro lado… O período de 3 meses juntos naquele país foi dificílimo, muitas vezes sofremos e choramos juntos… Quando chegamos ao Brasil, meu filho ainda apresentava sinais no comportamento causados pelo surto psicótico. A família precisou de um episódio dessa natureza para reencontrar a melhor maneira de viver. A vida deu esse empurrão e todos souberam aprender as lições.

Essa travessia serviu de reflexão e aprendizado a todos da família, e o crescimento continuou com o nosso retorno. Sempre tivemos a oportunidade de ajudar e, diante do ocorrido, aprendemos como é se sentir ajudado. A manifestação de solidariedade dos conhecidos, colegas, amigos e familiares durante nossa ausência foi a força moral e espiritual de que necessitávamos. Hoje, temos uma qualidade de comunicação e de vida muito superior a que tínhamos antes do meu filho sair do país, e continuamos evoluindo… Não tinha opinião formada sobre o valor da Psicologia e, pelos resultados que a psicoterapia ofereceu, pudemos todos melhorar. Agradeço a Deus.

A psicoterapia deve considerar a reencarnação

Should psychotherapy consider reincarnation?

Confira aqui o estudo completo

Júlio FP Peres 

Abstract

There is increasing recognition of the need to take into account the cultural environment and belief systems of psychotherapy patients because these values reflect basic assumptions about man’s nature and the cognitive references used to cope with psychological difficulties. Currently accepted psychotherapeutic approaches take no account of the belief in life after death held by most of the world’s population. The World Values Survey (http://www.worldvaluessurvey.org) showed that there are large numbers of reincarnationists around the world, and whatever the reasons for believing in reincarnation, psychotherapeutic approaches should not ignore this significant group of people. Respect for patient opinions and subjective realities is a therapeutic need and an ethical duty, even though therapists may not share the same beliefs. Guidelines are suggested for professionals to develop collaborative models that help patients mobilize their intrinsic intelligence to find solutions to their complaints.

Abstrato

Há um crescente reconhecimento da necessidade de levar em consideração o ambiente cultural e os sistemas de crenças dos pacientes de psicoterapia porque esses valores refletem suposições básicas sobre a natureza do homem e as referências cognitivas usadas para lidar com as dificuldades psicológicas. As abordagens psicoterapêuticas atualmente aceitas não levam em consideração a crença na vida após a morte mantida pela maioria da população mundial. A Pesquisa de Valores Mundiais (http://www.worldvaluessurvey.org) mostrou que há um grande número de reencarnacionistas em todo o mundo e, quaisquer que sejam as razões para acreditar na reencarnação, as abordagens psicoterapêuticas não devem ignorar esse grupo significativo de pessoas. O respeito pelas opiniões e realidades subjetivas do paciente é uma necessidade terapêutica e um dever ético, mesmo que os terapeutas não compartilhem das mesmas crenças.