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ENTREVISTA DR. JULIO PERES SOBRE IAs PARA TECMUNDO

Dr Julio Peres é Psicólogo Clínico, Doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo; Pós-Doutorado em Neurociências na University of
Pennsylvania; Pós-Doutorado em Radiologia Clínica/Diagnóstico de Imagem pela Universidade
Federal de São Paulo.

1) É possível que um ser humano se apaixone ou desenvolva uma relação
amorosa com uma inteligência artificial?
Sim, é possível, embora essa “paixão” ou relação amorosa não seja com a IA em si, mas
com a projeção que a pessoa faz de suas necessidades e carências sobre ela. Seria
como se relacionar com o espelho simbolicamente, porém considerando que o reflexo é
de uma outra pessoa. Costumo dizer para meus pacientes que as nossas percepções são
imensamente projetivas. Ou seja, o que alguém pode “sentir por” uma IA, traduz a
dinâmica psicológica do próprio individuo e suas vulnerabilidades emocionais.

 2) Uma pessoa que se !apaixona” por uma IA tem algum tipo de predisposição
para isso? Ou isso poderia afetar qualquer um?
Primeiramente, vale lembrar que a solidão é um dos sofrimentos prevalentes em
metrópoles, conforme estudos epidemiológicos. Vivemos numa cultura de grande
desconexão social, que provoca uma crescente epidemia da solidão. Então, muitas
pessoas cada vez mais buscam um suposto conforto em interações com mecanismos
inanimados (sem alma), como as IAs. Contudo, a maior parte dos indivíduos que se
!apaixonam” por inanimados estão em condições de saúde mental mais delicadas com
predisposições decorrentes de traumas psicológicos envolvendo abandono e desamparo
emocional. Esses traços acentuados de carência tendem a inclinar as projeções para
interações que parecem seguras, como amigos imaginários, objetos transicionais (bichos
de pelúcia, bonecos, tecidos, utilizados na infância), e cada vez mais com chatbots, que
!conversam” (na verdade respondem) em tempo real. São tentativas inconscientes de
compensação afetiva, minimizando os riscos da dolorosa rejeição traumática do passado,
que uma interação com humanos poderia suscitar. O problema é que essas ‘relações’
imaginárias são unilaterais, sem a reciprocidade necessária para nutrir o ser humano. Em
algum momento, as pessoas com tais vulnerabilidades, percebem o vazio existencial, a
aridez da não reciprocidade, e a despeito da tentativa de manterem a fantasia de uma
relação, o sofrimento pode emergir com imensa força, às vezes devastadora.


3) Quais os impactos da inteligência artificial na saúde emocional e afetiva dos
seres humanos?
Considero que as IAs estão a favor do nosso desenvolvimento saudável em muitas
perspectivas, a partir da compreensão clara sobre “o que” elas são, “para que” elas
servem e “como” podemos usá-las. O artigo !Hackers enganam facilmente as
Inteligências Artificiais” publicado no periódico Science nos ajuda nesse sentido.
Competentes grupos de pesquisa e desenvolvimento de curvas de aprendizado do mundo
reuniram em vários experimentos e constataram que as IAs são surpreendentemente
vulneráveis a falsificações. Imagens, objetos, sons sutilmente alterados, enganam as
supostas Inteligências. E por que as IAs foram enganadas? Justamente porque não são
inteligentes. As IAs não leem as entrelinhas – a palavra “inteligência” vem de
INTELLIGERE: INTER, que significa !entre”, e LEGERE significa !ler”. A correção do
equívoco conceitual como se as IAs fossem “seres inteligentes”, é um esclarecimento
básico inicial. Portanto os impactos das IAs na saúde mental podem ser positivos
considerando as informações esclarecidas sobre os limites e as capacidades dessas
ferramentas, ou negativos, considerando a desinformação e o uso indevido dessas
tecnologias, que abrem espaço para o isolamento social e dependências emocionais
prejudiciais, intensificando sentimentos de solidão, alienação e transtornos psiquiátricos.


4) É possível chamar um laço entre um ser humano e uma IA de relação?
Sim, é possível, porque são várias as camadas e os tipos de relações que os humanos
podem estabelecer, abrangendo desde vínculos saudáveis, baseados em reciprocidade,
afeto apoio mútuo, como em amizades, relacionamentos amorosos e familiares, até
relações mais complexas e, por vezes, patológicas. Relações com objetos inanimados,
como carros, dispositivos ou variedades de IAs, podem assumir um caráter simbólico,
onde o objeto representa segurança ou afeto, mas, em alguns casos, essas ligações
podem evoluir para patologias graves. Tais relações, imensamente imaginárias, tornam-se
perigosas quando o indivíduo projeta figuras idealizadas, personagens fictícios,
considerados como reais. Tenho observado em minha prática clínica um número
crescente de pessoas que manifestam dependência emocional, co-dependência, apego
excessivo, ou laços obsessivos que amplificam sofrimentos, impedem o desenvolvimento
emocional saudável, e por correspondência o bem-estar genuíno.


5) É possível imaginar que, no futuro, serão comuns as relações entre seres
humanos e IAs, como no filme !Ela” (Her, no original)?
Pode ser que tais relações se tornem mais comuns, mas isso não significa que elas serão
saudáveis. No filme !Her”, vemos a representação do personagem que transfere suas
necessidades emocionais para uma IA. Embora o filme explore esse contexto de maneira
poética, na realidade, relações como essas podem ser imensamente prejudiciais. Por
mais que diversas versões de IAs possam simular “conversas”, por parte do programa
inanimado não há empatia, compaixão, emoções, consciência, e muito menos a
compreensão emocional verdadeira. Como profissional da Saúde alerto que devemos
estar atentos para não confundirmos interações funcionais com conexões emocionais.
Nós somos seres sociais e necessitamos de interações humanas verdadeiras para
prosperar emocionalmente. Se continuarmos a nos afastar dessas interações, certamente
observaremos um aumento significativo em transtornos psiquiátricos relacionados ao
isolamento e à falta de conexão humana, que oferece os nutrientes essenciais a saúde
mental.


6) Do ponto de vista psicológico, como desenvolver uma !relação” saudável com
uma IA que interage como se fosse um ser humano?
O primeiro passo é ter clareza de que uma IA não é uma “entidade viva”, um ser humano,
e nunca será. Enquanto ferramenta, ela pode ser extremamente útil para identificar
padrões e gerar respostas específicas. Considero que “relações saudável” com as IAs
podem existir, especialmente se mantivermos essa distinção clara em nossa mente ao
usar tais recursos. Do contrário, o risco de desenvolvermos expectativas irreais e de nos
afastarmos das relações humanas verdadeiras, pode aumentar, assim como, os
decorrentes sofrimentos.


7) Como evitar o aumento da dependência emocional de IAs nas novas gerações?
Para evitar o aumento da dependência emocional de IAs nas novas gerações, é essencial
prestarmos mais atenção, mantermos um diálogo constante e aberto com crianças e
adolescentes, buscando entender e atender suas necessidades emocionais com
qualidade e proximidade. A observação ativa dos pais e cuidadores é fundamental: sinais
como isolamento, falta de interação social e uso excessivo, e às vezes obsessivo de
tecnologias são indicadores de que algum sofrimento mais profundo pode estar
ocorrendo. Além disso, é importante regular o tempo de uso das IAs e promover o
envolvimento dos jovens em atividades sociais e presenciais que favoreçam o
desenvolvimento de habilidades interpessoais, como encontros com colegas, amigos,
familiares, esportes, e visitas culturais. Como digo em palestras, ” carência afetiva
combinada com a solidão pode direcionar comportamentos patológicos, e as IAs, nesses
casos, podem ser rotas de fuga perigosas, que limitam o aprendizado dos desafios e das
nuances dos relacionamentos humanos.


ORIENTAÇÕES PRÁTICAS:
Dr Julio Peres oferece orientações práticas para o uso de IAs, especialmente quando se
trata de jovens vulneráveis, garantindo o equilíbrio entre a tecnologia e a saúde mental:


1. Supervisão e Limitação do Uso de IAs


– Monitoramento ativo e limitação do tempo de uso de tecnologias, especialmente para
jovens emocionalmente vulneráveis. Manter um controle sobre a interação de
adolescentes com ferramentas de IA é crucial para evitar que elas substituam as
interações humanas necessárias para o desenvolvimento emocional saudável.


2. Educação Digital e Emocional


– É essencial educar os jovens sobre os limites das IAs. Eu explico que essas
inteligências artificiais não possuem emoções ou empatia genuína, o que pode levar a
uma percepção equivocada de !relação” com elas. Pais e professores precisam ajudar os
jovens a entender essa diferença.


3. Sinais e Diagnósticos Diferenciais


– Reconhecer sinais de dependência emocional em jovens que usam IAs como
substitutos para interações humanas reais. Identificar se há predisposição a carências
afetivas ou traumas prévios é essencial para evitar que as IAs se tornem um “escape”
emocional. Diagnosticar precocemente adolescentes que demonstram sinais de obsessão
com tecnologia é crucial. Eu defendo a necessidade de uma avaliação cuidadosa para
identificar possíveis transtornos emocionais ou psiquiátricos, possibilitando intervenções
adequadas.


4. Apoio Psicológico e Terapêutico Especializado


– Buscar apoio psicológico, especialmente para adolescentes em situações de
vulnerabilidade emocional. O acompanhamento especializado pode prevenir o isolamento
excessivo e fortalecer habilidades sociais e emocionais.


5. Apoio Psicológico para Gerenciamento de Carências Afetivas


– O fortalecimento de laços familiares e sociais são essenciais, assim como trabalhar as
questões emocionais relacionadas à carência afetiva. Promover atividades familiares e
fomentar interações humanas genuínas. Criar momentos de conexão offline pode ajudar a
equilibrar o uso de tecnologias com a vida emocional real. Ao longo dos anos, tenho visto
que a falta de afeto pode levar a comportamentos disfuncionais, e tratar essas questões
ajuda a prevenir transtornos psiquiátricos e comportamentais mais graves.


6. Consciência sobre Projeções Emocionais e à Natureza da IA


– Enfatizar a natureza funcional e não emocional da IA. Manter sempre em mente que
as IAs são ferramentas, não seres capazes de trocas emocionais verdadeiras, evita
ilusões de reciprocidade e proteção emocional. Educar sobre como nossas percepções
são projetivas. As interações com IAs refletem nossas próprias carências e
vulnerabilidades, e entender essa dinâmica pode evitar confusões emocionais
prejudiciais.


ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS AO GRANDE PÚBLICO:


Tenho observado uma crescente preocupação, angústia e ansiedade antecipatória
em relação a medos irreais sobre as IAs. Perguntas como !podemos perder o controle e
ser dominados pelas IAs?” têm sido cada vez mais frequentes. Esses medos infundados,
que tratam as IAs como !entidades” que governarão o mundo, podem gerar pavor coletivo
e sofrimentos desnecessários. Historicamente, o Inconsciente Coletivo pode aflorar
fenômenos que chamamos de !Inversão da Ordem”, com potencial de provocar um pavor
contagioso. As IAs são !a bola da vez” nesse sentido, e essa confusão pode ser atribuída
a fatores como: matérias sensacionalistas, filmes de ficção, pessoas megalomaníacas
buscando destaque nas mídias com previsões catastróficas e até influenciadores com
delírios persecutórios, entre outros.


Contudo, a principal causa dessas falsas crenças está no uso incorreto de termos
como “inteligência” e “redes neurais” no contexto das IAs. Por isso, como psicólogo e
neurocientista, quero esclarecer alguns pontos para dissipar a angústia e a ansiedade
antecipatória desnecessária de muitos.


Os grandes modelos de linguagem (conhecidos como Large Language Models,
LLMs) utilizam algoritmos de aprendizado para reconhecer padrões — como sons, objetos
ou imagens — e, após uma série de treinamentos por tentativa e erro, geram respostas e
interações específicas. Alguns LLMs utilizam arquiteturas de conversão, chamadas de
!redes neurais”, devido ao princípio de processamento da informação. Daí a confusão, as
IAs fazem conversões e as redes neurais vão muito além!


Enquanto as IAs se baseiam em algoritmos com princípios lineares e previsíveis, a
experiência humana integra, de forma sistêmica e em dinâmicas quânticas, estados
mentais, emocionais, intuições, percepções complexas multi-sensoriais, subjetividade,
crítica, espontaneidade, intencionalidade, plasticidade, adaptação contínua e interações
entre 86 bilhões de neurônios em uma fluidez única, que não podem e nunca poderão ser
replicadas por máquinas inanimadas. Portanto, as IAs não têm a capacidade de exercer
controle sobre nós.


É essencial entender que as IAs são apenas ferramentas que operam por meio da
identificação de padrões e geração de respostas a perguntas específicas; elas não
possuem consciência ou emoções. A metáfora do “Quarto Chinês”, proposta por John
Searle, também ajuda a esclarecer aspectos importantes sobre as IAs: imagine alguém
trancado em um quarto sem saber chinês, mas com um manual detalhado de como
responder em chinês a qualquer mensagem recebida. Ao seguir o manual, essa pessoa
consegue responder com precisão e até convencer quem está do lado de fora de que
entende chinês, quando, na verdade, apenas segue instruções sem compreender o
conteúdo. Da mesma forma, embora os sistemas de IA consigam simular conversas ou
realizar tarefas complexas, eles não !entendem” o que fazem. Mesmo quando uma IA
parece se comunicar de forma !inteligente”, não há consciência, intencionalidade ou
compreensão verdadeira do conteúdo, mas uma simples execução de tarefas que nós,
humanos, atribuímos ao sistema.


Embora possam ser extremamente úteis em muitas áreas, como engenharia,
medicina e pesquisas, é fundamental não superestimarmos sua importância nem
permitirmos a proliferação de falsas crenças responsáveis por medos irreais.
CURIOSIDADES:


A revista New York Times publicou de maneira sensacionalista que o “Perceptron” criado no Departamento de Pesquisa Naval
dos EUA em 1958, era a primeira máquina supostamente “a pensar como o cérebro humano” e que “se tornaria mais sábio à
medida que ganhasse experiência”. Essa matéria, assim como outras, proliferaram a falsa crença que contribuiu com medos de
contágio na década de 1960, como se os computadores pudessem submeter os humanos a escravidão. Considerando os efeitos negativos da onda de falsas crenças a respeito dos computadores, este anúncio da Remington dos anos 1950 procura assegurar aos leitores que os “cérebros eletrônicos” (ou seja, os primeiros computadores) não tornariam o cérebro humano obsoleto.
A derrota do campeão mundial de xadrez Garry Kasparov contra o computador IBM Deep Blue em 1997 foi amplamente divulgada com o viés equivocado “venceu o mais inteligente”. 

 

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ARTIGO”Você com mais idade!”

Dr. Julio Peres

O maior dos sofrimentos que as pessoas com mais idade apresentam é a solidão. Foi o
que mostrou uma recente meta-análise com 70 estudos envolvendo mais de 8 mil pessoas entre
55 e 100 anos, publicada no respeitado periódico JAMA. A solidão contínua em idosos tende a
evoluir para depressão, o que agrava as condições de saúde e amplifica significativamente os
sofrimentos até a morte.

Como aliviar esse sofrimento? Obviamente, a primeira resposta é: por meio da
convivência, companhia, visitas, passeios e relacionamentos presenciais. Contudo, infelizmente
pouca atenção tem sido dada nesse sentido às pessoas com mais idade, e não podemos
subestimar os exemplos transgeracionais e a nociva cultura da pressa, do descaso e
superficialidades que nos “empurram” ao adoecimento. Diante disso, cabe a reflexão: a maneira
que você se relaciona com os idosos e/ou cuida deles, especialmente os avós dos seus filhos
(seu pais), será provavelmente a maneira como você será cuidado por seus filhos e pessoas mais
jovens quando sua idade avançar.

Os profissionais da saúde mental, por outro lado, cada vez mais dirigem atenção ao
crescente grupo de pessoas com mais idade. São desafiadores os diagnósticos diferenciais nessa
população, porque a solidão e a depressão podem ser concomitantes a vários outros fatores,
como a desestruturação do núcleo familiar, distanciamento dos filhos, perda de entes queridos,
declínio cognitivo (demências), condições médicas, interações medicamentosas e limitações
físicas para funções que eram habituais anteriormente. É importante observar que, apesar da
disponibilidade cada vez maior de serviços especializados, a depressão que acomete grande
percentual dessa faixa populacional muitas vezes não é detectada ou mesmo tratada de forma
adequada.

A sucessão de perdas pode ganhar mais peso que os benefícios da sabedoria adquirida
na maturidade longeva, quando as abordagens complementares às visitas e a participação ativa
de familiares, amigos e colegas não acontecem. E quais são as tais abordagens complementares
indicadas à melhor qualidade de vida dos idosos? A despeito de nada substituir a potência
saudável da atenção afetuosa presencial, vale considerarmos as possibilidades adicionais abaixo,
respeitando os limites de cada indivíduo:

=> Pets, animais de suporte emocional e terapias de contato com animais: favorecem nutrientes
afetivos em relações de amor incondicional especialmente por parte dos pets. Foram
demonstrados maiores efeitos na redução da solidão dos idosos quando adotadas abordagens
em que se priorizou a presença de animais.

=> Religiosidade e Espiritualidade: Exercem um importante papel na manutenção da saúde
mental e prevenção da depressão das pessoas com mais idade. Além dos manejos positivos que
envolvem resiliência, busca de aprendizados, aliança com Deus, entre outros aspectos, a
congregação entre comunidades religiosas pode favorecer a noção de pertencimento diretamente
relacionada à saúde mental. Observo na minha prática clínica que, em especial, o enquadre
cognitivo de que a vida presente é parte do processo evolutivo que compreende sucessivas vidas
(reencarnação) tem se mostrado como manejo atenuante do sofrimento relacionado à suposta
finitude e à dor pela perda definitiva dos entes amados.

=> Musicoterapia: Tem sido cada vez mais utilizada em idosos e indivíduos com demências.
Estimula a comunicação por meio da linguagem musical, que envolve variados timbres, células
rítmicas, melodias e outros elementos que colaboram com a expressão de afetos positivos, a
regulação das emoções e o fortalecimento de memórias motoras (de procedimento), assim como
de memórias declarativas, considerando melodias e canções previamente conhecidas.

=> Terapia ocupacional: Por meio de oficinas, atividades lúdicas e artísticas em grupo (jogos,
pinturas, esculturas, artesanato, exercícios) e palestras, os profissionais auxiliam a retomada de
atividades diárias que foram prejudicadas tanto quanto possível, além de valorizar os resultados
das expressões individuais e do grupo, favorecendo a noção de pertencimento.

=> Intervenções sociais: Trazem resultados significativos para a melhora da autoestima e
sentido de pertencimento a comunidades e grupos. Contudo, as iniciativas de cunho social devem
prioritariamente respeitar as áreas de interesse do indivíduo para a adesão contínua a práticas
coletivas. As principais atividades podem acontecer em comunidades de filantropia, datas
comemorativas, ações de voluntariado, dança e jogos em centros comunitários, exercícios físicos
em grupo, comunidades religiosas/espirituais e clubes.

=> Exercícios físicos: Individuais ou em grupo, acompanhados por profissionais especializados
(personais), impactam na melhora da disposição, do tônus vital e do humor por meio da
segregação neuroquímica relacionada ao bem-estar (serotonina, dopamina), além do
fortalecimento muscular, do equilíbrio, da coordenação motora e da flexibilidade, que conferem
autonomia às atividades diárias. As atividades físicas que incluem a musculação orientada
diminuem a emersão de condições médicas (problemas cardiovasculares, diabetes, artrites, entre
outras), e mantêm a densidade óssea preventiva a fraturas por osteopenia e osteoporose.

=> Intervenções tecnológicas: A realidade virtual na forma de head-mounted displays (monitores
acoplados à cabeça) vem sendo cada vez mais utilizada como estratégia terapêutica no cuidado
de idosos, porém com resultados ainda inconsistentes, porque a náusea, efeito colateral do
procedimento, é reportada por muitos usuários. Um conjunto de reminiscências peculiares ao
indivíduo é mostrado no display visual, de maneira a proporcionar acesso e fortalecimentos de
memórias com valências emocionais positivas.

=> Terapêuticas medicamentosas: As regras farmacológicas inerentes à faixa etária e
interações conflituosas entre os medicamentos é um desafio clínico, mas, quando acertadas as
dosagens, esse recurso pode propiciar melhora da qualidade de vida das pessoas com mais
idade. Em geral os estudos mostram que os quatro fármacos mais utilizados por idosos são os
anti-hipertensivos, os antidepressivos ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina),
diuréticos e analgésicos, enquanto, para indivíduos com declínio cognitivo (demências), são
prescritos principalmente os inibidores da colinesterase, que aumentam a disponibilidade de
acetilcolina no cérebro.

=> Terapia de Reminiscências: Merece especial atenção. Também conhecida como Abordagem para Revisão de Vida, foi formulada para atender às necessidades das pessoas com mais idade, inclusive com declínios cognitivos de vários estágios. Envolve a recordação vocal ou silenciosa de eventos na vida de uma pessoa, seja sozinha ou com outra pessoa ou grupo de pessoas. Normalmente envolve a modalidade de reuniões de grupo, pelo menos uma vez por semana, em que os participantes são incentivados a compartilhar suas histórias autobiográficas e acontecimentos passados, muitas vezes auxiliados por recursos como fotos, músicas, objetos e vídeos. Infelizmente ainda npouco conhecida no Brasil, essa abordagem terapêutica psicossocial aumentou significativamente a função cognitiva e a qualidade de vida e reduziu os sintomas depressivos e neuropsiquiátricos entre pessoas com demência. Formulei um protocolo terapêutico multidisciplinar de reminiscências que envolve sessões individuais e em grupo com apoio de materiais autobiográficos para pessoas com declínios cognitivos.

A solidão e o isolamento social estão associados ao aumento da morbidade e mortalidade imersa em múltiplos sofrimentos. Conforme mostrei no meu recente livro “Razão & Prática: olhares terapêuticos sobre o significado e o uso das palavras”, as virtudes são o pavimento para uma vida saudável, longeva, e favorecem a construção de uma sociedade com significativa melhor qualidade, que todos merecemos. Portanto, cultive o amor, a bondade, a escuta, a
gentileza, a gratidão, o respeito e a solidariedade, com empatia pelas pessoas idosas. Sente-se bem, quem faz o bem!.

Baixe o PDF aqui