Como é possível manter relacionamentos à distância, no caso de pais cujos filhos vão estudar no exterior ou de namorados que moram em países diferentes?
A internet permite o contato com familiares dispersos em várias partes do planeta, pode realmente minimizar as distâncias geográficas assim como as saudades entre os entes queridos, e isso é fantástico. Contudo, se o contato presencial não ocorrer depois de algum tempo, a mesma internet pode provocar uma crescente angústia do vazio favorecendo o afastamento do ente querido. O contato físico é essencial e desde a infância os canais sensoriais (tátil, auditivo, olfativo, gustativo e visual) fortalecem o vínculo com o outro, além das emoções vivenciadas especialmente a da presença física. A Internet favorece apenas a sensibilização visual/auditiva, e assim, paradoxalmente aproxima as pessoas que estão longe e depois de algum tempo as afasta pelo sofrimento da ausência ou mesmo pela superficialização do vínculo, o que geralmente acontece com namoros à distância.
Quais os principais problemas enfrentados por essas relações?
A cultura contemporânea incentiva diuturnamente comportamentos como a pressa, a praticidade e a obtenção imediata dos bens que influenciam uma relação diferenciada com o tempo cronológico e subjetivo. Há poucas décadas, uma viagem de uma capital a outra no Brasil poderia levar dias e uma carta chegaria a seu destino em várias semanas, e assim as pessoas tendiam a ficar por mais tempo num ambiente. Em outras palavras, tínhamos mais oportunidades para a convivência interpessoal saudável e estabelecer vínculos consistentes com a família e os amigos. Hoje, os relacionamentos interpessoais são influenciados pela oferta dos meios ágeis de comunicação, que favorecem interface superficial com grande número de pessoas (redes de relacionamento via Internet), incitando contatos por interesse em vantagens imediatas e relações também descartáveis. Nosso estilo de vida afeta também a vida dos indivíduos com quem convivemos. Pessoas “coisificam-se” sucessivamente como produtos, ao passo que os vínculos afetivos se tornam cada vez mais frágeis. Nós necessitamos da presença genuína do outro, especialmente do(s) ente(s) querido(s), desde a vida intra-uterina até o final de nossos dias, e nenhum artifício tecnológico substituirá esta presença. Todos nós precisamos do contato humano para sermos cuidados, podermos cuidar e assim pertencer. Um paciente uma vez me disse que se surpreende em poder jogar xadrez no computador com alguém em outra parte do mundo, mas que o prazer de jogar com um bom amigo no tabuleiro de madeira com peças desgastadas pela memória do tempo é incomparável. O contato humano é depreciado atualmente pela exuberância tecnológica.
Qual a importância dessas tecnologias para manter perto quem está longe?
A tecnologias como Skype e MSN são muito importantes nesse sentido, especialmente se o tempo de distanciamento geográfico entre os entes queridos não for tão expressivo.
Entrevista com o Dr. Julio Peres concedida à UNILEVER