Ao contrário do que se acreditava, psicólogos e psiquiatras começam a reconhecer o trauma como uma oportunidade para os indivíduos transformarem suas vidas para melhor.
Experiências traumáticas podem criar oportunidades de crescimento pessoal através da introdução de novos valores e perspectivas para a vida. A Psicologia e a Psiquiatria recentemente estudam os diferenciais de comportamentos dos numerosos exemplos de crescimento pós-traumático espontâneo como esteios para novas formulações de estratégias terapêuticas. As psicoterapias atuais enfatizam os caminhos de superação utilizados naturalmente por indivíduos resilientes (com a capacidade de atravessar situações traumáticas e voltar a qualidade de vida satisfatória).
“Existem casos que o paciente percebe que é possível se reerguer e ajudar outras pessoas a superarem o peso de um grande trauma. Temos observado um crescente número de publicações cientίficas sobre o crescimento pós-traumático de indivíduos acometidos por acidentes, enfermidades, internações hospitalares, violência urbana e doméstica, assalto, estupro e desastres naturais, que buscam ajuda especializada”, afirma Julio Peres, Psicólogo clínico e Doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Um caso destacado pelo Psicólogo é o de um paciente que encarou a leucemia da mãe como uma forma de, não só superar o próprio trauma, como também de mobilizar outros cidadãos sobre a importância de ser um doador de medula óssea.
“Quando ele chegou ao consultório, estava desestruturado emocionalmente, sentia-se incapaz, fragilizado e com medo do que poderia acontecer. Durante a psicoterapia, percebeu que poderia ajudar não só sua mãe como muitas outras famílias e se engajou na causa”, conta Julio Peres. “As iniciativas foram importantes para conscientizar muitas pessoas, assim como para o seu crescimento e fortalecimento pessoal. Ou seja, com isso observamos que a angústia e o crescimento pós-trauma podem caminhar juntos quando uma aliança de aprendizado com o sofrimento é construída, favorecendo a melhora da qualidade de vida.”
Essa atitude de desenvolver novos interesses e objetivos de vida após o trauma é um dos cinco fatores do crescimento pessoal. Os outros fatores que podem agir de modo independente ou paralelamente são: apreciação e valorização da vida, melhor relação familiar e interpessoal, resgate da religiosidade e espiritualidade no dia-a-dia e descoberta de força e recursos pessoais para superação de adversidades.