O que é o Trauma Psicológico
O que é trauma Psicológico? O trauma psicológico é resultante de uma situação experimentada, testemunhada ou confrontada pelo indivíduo, na qual houve ameaça à vida ou à integridade física e/ou psicológica de si próprio ou de pessoas a ele ligadas.
Assaltos, sequestros, estupros, acidentes naturais, confrontos de guerra, acidentes automobilísticos e perdas de entes queridos são considerados, entre outros, eventos potencialmente traumáticos.
O interesse pelo trauma psicológico vem aumentando substancialmente e evidencia-se pelo crescimento do número de publicações e estudos controlados em andamento, pelo surgimento de periódicos e congressos dedicados ao tema e pela atividade associativa entre profissionais e pesquisadores.
“Trauma”, em sua raiz etimológica grega, significa lesão causada por um agente externo. Esse conceito migrou para o campo psicológico com Freud e Breuer em seus primeiros escritos sobre as raízes da neurose. Hoje, trauma continua ligado ao significado ferida – considera-se ocorrência de um trauma uma vez que as defesas psicológicas naturais são transgredidas – porém, não exclusivamente causada por um agente externo.
A exposição a situações traumáticas tem sido constante ao longo de toda a História da humanidade. Na literatura, na arte e nas mais diversas áreas é incontável o número de indivíduos que, em algum momento, registraram um quadro de sofrimento traumático. Estudos epidemiológicos (em população global de países) estimaram que a prevalência ao longo da vida para ocorrência de eventos potencialmente traumáticos pode alcançar de 50 a 90%, enquanto a prevalência do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) na população geral é estimada entre 8 e 10%.
Na prática, isso significa que a maioria de nós vivenciou ou vivenciará pelo menos uma experiência passível de causar trauma psicológico. Sem dúvida, trata-se de um número bastante expressivo, mas é importante lembrar que eventos estressores em si não levam obrigatoriamente à manifestação de traumas psicológicos. Experiências intensas e devastadoras podem disparar efeitos variáveis. A teoria da “reação universal ao trauma” foi relativizada a partir de estudos que mostraram um grau de variedade individual em processar os eventos ocorridos durante a vida e as emoções básicas. Muitas vítimas de eventos estressores procuram apoio profissional, literatura, apoio de amigos, enquanto outras enfatizam o silêncio, o isolamento, o colapso e/ou a vitimização.
É crescente o número de estudos epidemiológicos que apontam a relação entre a exposição a eventos traumáticos e a maior utilização de instituições de saúde, assim como a manifestação de doenças e morte prematura.
Uma investigação de 3.982 gêmeos conduzida pelo psiquiatra e epidemiologista americano Joseph Boscarino mostrou relações significativas entre nove condições (síndrome de fadiga crônica, dor lombar, síndrome de intestino irritável, cefaleia crônica, fibromialgia, desordem da articulação temporomandibular, depressão, ataques de pânico e TEPT), sugerindo que elas compartilham a etiologia de eventos traumáticos. Ainda que novos estudos sejam necessários para especificar precisamente o inter-relacionamento entre essas condições, o impacto traumático foi observado como um fator crítico subjacente nos enfermos estudados.
Memória traumática é um dos sintomas centrais decorrentes do trauma psicológico e, por isso, ao longo deste livro, aprofunda- remos o tema. Inicialmente, é importante ter em mente que memória pode ser entendida como a capacidade de organizar e reconstruir as experiências e impressões passadas a serviço de necessidades, temores e interesses atuais. Uma simples e objetiva definição de memória de que, particularmente, gosto muito, foi traduzida pelo pesquisador Gilberto Xavier como “a capacidade de alterar o comportamento em função de experiências anteriores”.
Embora as memórias traumáticas sejam em maior parte associadas ao TEPT, na literatura, um grande número de pessoas traumatizadas não preenche os critérios diagnósticos do TEPT ou de outros transtornos psiquiátricos. Essas pessoas podem apresentar TEPT parcial (ou subsindrômico) – correspondentes a 30% da população – e com maior frequência procuram a psicoterapia.
A maioria das queixas trazidas por indivíduos à clínica psicoterápica tem em sua raiz eventos traumáticos ou carregados de emoções dolorosas que influenciam o momento atual. De fato, essas experiências podem alterar o equilíbrio psicológico, biológico e social de um indivíduo, matizando suas futuras experiências com o desenvolvimento dificultoso de processos cognitivos.
A lembrança específica de episódios ocorridos em condições extremas de estresse pode disparar a formação de padrões defensivos de comportamento (por exemplo, medos exacerbados em situações que não mais oferecem riscos), que se tornam inapropriados ao momento atual, trazendo desajustes significativos à vida cotidiana.
Pesquisadores em todo o mundo estabeleceram uma forte relação entre o trauma psicológico e o desenvolvimento de TEPT, transtorno depressivo, transtorno de personalidade, transtorno somatoforme (antigamente chamado de doenças psicossomáticas), dores crônicas, fobias específicas e fobia social, automutilação, suicídio, comportamentos de alto risco e abuso de substâncias (como drogas e álcool).
Traumas psicológicos podem também exercer significativa influência em comportamentos com isola- mento social, distorções de percepção da identidade pessoal e alterações da crítica e do julgamento, sem necessariamente caracterizar um transtorno.
[…] e Trauma: a experiência reconstruída como uma memória que provoca tristeza ou qualquer outra emoção […]
[…] traumas psicológicos podem afetar a qualidade de vida com grande expressão, caracterizando o TEPT, uma desordem […]
[…] lembranças do trauma geralmente estão fragmentadas em imagens, sons, odores, sensações físicas (náuseas, […]