O Olhar espnW desta semana vai falar sobre ‘trauma’
Clique aqui e confira a entrevista completa.
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O desejo de tirar a própria vida na era digital
Relatos sobre investigação no Brasil em abril de 2017 citam adolescentes vulneráveis que estariam sendo encorajados a retirar a própria vida por meio de uma série de desafios on-line. Sabe-se que esses desafios, conhecidos como “jogo da Baleia Azul”, tiveram origem nas redes sociais da Rússia e se espalharam pela Europa nos últimos dois anos. Na Rússia, as mortes de alguns adolescentes foram relacionadas ao jogo, embora não haja confirmação sobre esses relatos.
A ideia é que indivíduos estariam sendo convidados a completar um número de tarefas em 50 dias. As tarefas ficariam cada vez mais danosas à pessoa e terminariam com um desafio ao suicídio. Há preocupação que a ideia esteja espalhando pelo mundo e pelo Brasil por meio de redes sociais.
O que é Baleia Azul?
Acredita-se que seja uma referência a um comportamento de certas baleias azuis que aparecem em países e morrem encalhadas. O nome está sendo usado por grupo de pressão na internet que indicariam um “curador” ou “administrador” que encorajaria participantes a completar testes em 50 dias.
As tarefas iriam de demanda simples, como assistir a um filme de terror, a pedidos mais sinistros, como automutilação e suicídio. Para falar sobre o jogo da Baleia Azul e comportamento dos jovens na era digital a folha espírita conversou com o psicólogo clínico e doutor em neurociências e comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Dr. Julio Peres, Pós doutorado no Center for Spiritualy and the Mind, University of Pensylvania” e na Radiologia Clínica –Diagnóstico da Imagem pela Unifesp, Julio é autor de estudos que investigam os efeitos neurológicos da psicologia (Psychological Medicine 2007 e Journal of Psychiatric Reserch 2011), pesquisador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (PROSER) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, professor titular de Psicotraumatologia Clinica do Hospital Pérola Byington e autor de artigos científicos sobre psicoterapia, trauma psicológico, espiritualidade/religiosidade, reencarnação, resiliência superação e dos livros Trauma e Superação : O que a Psicologia, a Neurociência e a Espiritualidade Ensinam, Editora Rocca e Neuroimaging for Clinicians Combiring Research and Pratice –Editora Intech.
Folha Espírita – O suicídio entre adolescente é assunto da vez. Pais estão apreensivos com a série de TV 13 Reasons Why (Os 13 porquês) e jogos on-line, como a Baleia Azul, que Induziria jovens ao suicídio. Afinal, há com o que se preocupar? Série e jogo podem ser responsáveis por algum caso de suicídio ou alguém que pode vir a se suicidar já tem alguma fragilidade e ambos poderiam ser apenas o gatilho?
Peres – Sim, certamente as preocupações com as crianças e jovens são pertinentes e há muito tempo o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, nas últimas décadas, repercutiu de maneira intensa em mudar aspectos da vida social e individual, criando outras formas de pensar, sentir e agir em um novo tipo de sociedade influenciada pela cultura tecnológica. O mundo virtual dos jogos e as séries de TV passam a ser cada vez mais atrativos a partir da qualidade e da quantidade de informações tecnológicas com alta resolução e cores vividas, que seduzem os usuários por meio da excitação provocada pelos estímulos sensoriais. Especialmente perversas de manipulação psicológica por meio de intensa estimulação sensorial associada a enredos com destacadas expressões emocionais (raiva, medo, tristeza, desamparo, angústia, violência, solidão, aversão, etc.) de jogos interativos e séries cada vez mais frequentes, que têm como alvo/objetivo o lucro de qualquer custo, não importa o que custar! Ao mesmo tempo, os pais, cada vez mais ocupados pelas pressões de performance em um contexto cultural da pressa e do descartável, tendem a ignorar o isolamento dos filhos, aparentemente entretidos, porém correndo graves riscos para desenvolvimento de transtornos afetivos. Portanto, fragilidades emocionais/psicológicas dos jovens aliadas a manipulações perversas dos conteúdos que inclinam ao mal-estar, falsas crenças de ausência de sentido para existência, ou mesmo demonstrações equivocadas de “coragem” com atos cegos e impulsivos, são combinações muitíssimo perigosas, que levam de fato jovens a comportamentos de alto riscos, às vezes com sequelas irreparáveis!
FE- Qual é o limite entre realmente se preocupar com isso ou apenas buscar compreender o adolescente que você tem em casa?
Peres – O controle emocional e cognitivo relativamente imaturo das crianças e do adolescentes favorecem a exposição de risco elevado para manifestação da adicção (vício) a conteúdos manipulativos que excitam as emoções, expectativas e ilusão de pertencimento a um grupo. Portanto, a proximidade afetiva cuidadosa dos pais especialmente nos períodos de desenvolvimento cognitivo/emocional das crianças e adolescentes, se faz necessária, para evitar os riscos de manipulação pela vulnerabilidade características dessas fases. Contudo, vale enfatizar que imaturidade emocional/psíquica também se manifesta em adultos! Todos nós lembramos das catástrofes que líderes carismáticos e patológicos como Adolf Hitler e Jim Jones impuseram sobre imenso número de pessoas imaturas e vulneráveis a manipulação levando-as a guerras e violência infundadas, a suicídios coletivos, entre muitos outros sofrimentos.
FE- O jogo Baleia Azul é um risco?
Peres – Sim, considerando as fragilidades e vulnerabilidades acima citadas. A expectativa da nova informação que virá no próximo desse tipo pode gerar um ciclo recorrente de ansiedade suposto alivio, tal como padrão que jogadores patológicos apresentam. Alguns adolescentes não controlam tal comportamento impulsivo e continuam em busca de “novidades” que supostamente “atenuem” a angústia com os jogos, séries, novos comentários às postagens, controle aparente da vida de conhecidos e desconhecidos e, finalmente se tornam dependentes dos respectivos conteúdos negativos.
FE- O que pode acontecer para que um jovem fique vulnerável a um jogo como esse?
Peres – Além dos aspectos mencionados, quando o jovem se sente isolado, sem referências saudáveis e não pertencentes a um grupo familiar/social que possa nutrir suas necessidades afetivas, a vulnerabilidade amplifica.
FE – Em um mundo onde cada vez mais se usa as redes sociais, mais de forma benéfica do que contrário, o que fazer para ter controle de tudo que acontece por lá?
Peres – De fato, são notórios os benefícios da rede sociais quanto as possibilidades de interface interpessoal e busca de informações atualmente utilizadas com sucesso em muitos casos para apoiar inclusive as estratégias pedagógicas em processo de aprendizagem. Vários estudos relacionam o uso de bons jogos eletrônicos com a maior facilidade de aprendizado, o desenvolvimento de habilidades cognitivas e monitoras, a melhora na capacidade de orientação especial e facilidade da socialização. Reconhecemos o destacados benefícios que a cultura tecnológica tem oferecido à sociedade, mas também observamos os significativos riscos decorrentes dessa cultura, prevalece em centro urbanos, associados ao sofrimento e a depreciação da qualidade de vida e ao uso excessivo não supervisionado e/ou discriminado do “universo virtual”. E recorrente a queixa de isolamento social associado ao uso problemático da internet em consultórios psicológicos, com repercussões/implicações traumáticas.
Minha orientação aos pais começa com algumas informações relevantes:
Os períodos da infância e adolescência são críticos (muitíssimo importantes) ao desenvolvimento físico, psicológico e social. Durante esses estágios é fundamental que a convivência com a família, amigos e colegas seja prevalente para o aprendizado de estratégias saudáveis de enfrentamento das adversidades e conflitos naturais que o ambiente social oferece. A imaturidade do desenvolvimento cognitivo torna esses períodos promissores a vulnerabilidade adaptativa, que podem levar a uma maior incidência de transtornos afetivos entre adolescentes. A empatia-essencial a interação humana saudável, respeitosa e a mente prejudicada em adolescentes excessivamente “plugados” é mais desenvolvida em crianças e jovens que receberam cuidados afetivos. Em outras palavras, crianças e adolescentes afetivamente bem cuidados tem significativamente melhores possibilidades para construírem vidas adultas e familiares saudáveis, favorecendo o ciclo harmonioso com seus filhos e descendentes… Portanto, o que fazemos para e por nossos filhos, fazemos também pela humanidade!
FE – Que sintomas pais e pessoas no geral que lidam com adolescentes devem ficar atentos? Quando agir? E de que forma?
Peres – Além do prejuízo da qualidade das relações interpessoais, os pais e cuidadores devem estar atentos em relação as alterações comportamentais de crianças e jovens, que também favorecem a vulnerabilidade ao trauma psíquico, tais como: tempo de sono reduzido, significativo cansaço/esgotamento durante o estado de vigília “ao longo do dia” maior expressão de sintomas musculo esqueléticos (dor nas costas, no pescoço, etc), aumento dos níveis de estresse psicológico e social aumento da evasão escolar, atividades de lazer limitadas, maior incidência de conflitos de depreciação do convívio familiar/social, maior incidência de abuso de substância, insatisfação e ausência de significado para existência, frequência exacerbada de experiências dissociativas “como se estive anestesiado/desconectado” auto mutilação (ferimentos provocados no próprio corpo), comportamentos impulsivos e/ou agressivos, baixa auto-estima e aumento do risco a violência de diversos tipos. Por outro lado, a mediação dos pais e a proximidade afetiva em relação aos filhos são os principais fatores protetores aos riscos traumatogênicos acima citados. Vale considerar também ajuda profissional especializada.
FE – Do ponto de vista espiritual, como você vê a criação de jogos assim?
Peres – Influenciais espirituais negativas se propagam com diversos contornos. Por exemplo, alguns sites da internet, séries e blogs descrevem formas pelas quais o suicídio pode ser cometido, e muitos outros desencorajam as pessoas em sofrimento a procurarem ajuda profissional especializada. Os resultados de estudos populacionais “epidemiológicos” revelam que a prevalência de usuários adictos (viciados) a intercorrelacionada com as taxas de suicídio na população geral. Portanto, as ondas vibratórias negativas também influenciam muitas pessoas por meio das mesmas ferramentas tecnológicas que podem contribuir para o bem-estar.
FE – E que recado daria aos jovens, como psicólogo, mas também como espírita?
Peres – A espiritualidade está sempre presente em nossas vidas. Especialmente quando polarizamos nossos sentimentos, pensamentos e ações, podemos amplificar a qualidade vibratória com a qual sintonizamos. Precisamos todos tomar muito cuidado com as ondas escuras que são muitas vezes amplificadas por descuido de nossas responsabilidades espirituais no dia a dia. Lembremos que o patológico pode prevalecer apenas quando as referências saudáveis se ocupam. Fazer o bem, cuidar de você e do próximo com responsabilidade e afeto fortalece o ciclo virtuoso da luminosidade que ampara e protege. Os exemplos saudáveis precisam ser mostrados… Onde há luz, não há escuridão! Ajude a você mesmo e aos seus amigos/colegas a propagarem o bem.
Entrevista com Dr. Julio Peres no programa Dois Pontos com Salomão Schwartzman.
Uma Nuvem Negra que me Acompanhava Dias e Noites Depois de alguns dias no hospital, voltei para casa sentindo-me anestesiado, um morto-vivo, alguém que olhava, mas não via; respirava, mas não sentia; ouvia, mas não escutava…
Esse estado de choque terrível levou algumas semanas para passar e, depois disso, a depressão foi se intensificando mais e mais.
Era tudo tão surreal! Olhava-me no espelho e não parecia mais com aquele empresário que havia deixado o escritório dias antes e se preparava para ter um ótimo final de noite ao lado da família.
Todos sorriam ao me ver e eu sorria de volta, exatamente como tinha aprendido na cartilha de etiqueta, mas aquilo não passava de uma encenação. Todos fi cavam muito felizes em me ver, menos eu.
O que estava acontecendo comigo? Apesar das diversas fraturas expostas na perna esquerda, não fi cara com sequelas mais graves, contudo a minha alma adoecia cada vez mais, pouco a pouco.
Sem direito a recorrer da sentença que minha mente dera a mim mesmo, tornei-me um sujeito apático, deprimido, vivendo como um vegetal. Por mais que a família e os amigos tentassem me ajudar, eu não conseguia me livrar daquela sintonia pesada que acabou suprimindo um ano e meio da minha vida. Tinha pesadelos recorrentes; podia ouvir o carro freando, o barulho ensurdecedor do capotamento e, depois, a sensação de estar preso nas ferragens, incapaz, impotente, sem poder fazer nada, a não ser acompanhar cada segundo de sofrimento como se fosse a eternidade. Parecia um encontro mar cado com o trauma todas as noites, e durante o dia lembrava seguidas vezes de tudo o que acontecera.
O período mais crítico já havia passado e, no entanto, as lembranças das sensações ruins permaneciam, como se o acidente tivesse acontecido uma semana antes.
Depois de 6 meses do acidente de carro, as coisas só pioraram; passei a desenvolver um extremo desconforto em locais sem “rota de fuga” e fi cava desesperado em situações de imobilidade. Tinha muito medo de andar de carro e me sentia incapaz de voltar a dirigir. Assim, sempre que era preciso ir a algum lugar de automóvel, precisava tomar um calmante.
Cheguei a um ponto em que o trauma me envolveu totalmente e eu me abandonei. Não conseguia me interessar pela família, amigos, nem pelo trabalho. Sem outra alternativa, meus irmãos passaram a tomar conta do negócio familiar. Qualquer coisa que me lembrasse do acidente causava uma sensação muito negativa. Tinha tremores, o coração disparava, suava frio e era difícil para sair desse estado.
Acho que só conseguia sair por exaustão. Com o tempo, o quadro se agravou, e os estímulos não diretamente relacionados ao acidente também passaram a me incomodar. O medo que tinha de andar de carro se expandiu para o pavor de viajar em qualquer meio de transporte. Fui limitando cada vez mais a vida até não aguentar mais e admitir algo muito importante…
Eu Precisava Buscar Ajuda!
Ao ver na TV uma entrevista sobre o tratamento de TEPT, decidi procurar a ajuda de um psicoterapeuta especializado. Até então, só tomava antidepressivos, mas os resultados não eram satisfatórios.
O terapeuta fez várias perguntas sobre o período da infância e recordar desse tempo foi muito importante para mim. Trazer à tona o menino dinâmico, já com características empreendedoras, dotado de carisma e liderança naturais foi, aos poucos, reavivando a minha percepção de mim mesmo. O meu processo deu sinais de decolagem rapidamente, quando passei a lembrar da minha “verdadeira natureza”.
Um marco do início desse processo de superação deu-se em uma sessão na qual me surpreendi sorrindo ao relatar uma travessura de moleque. Em seguida, o terapeuta perguntou qual a última vez em que havia gargalhado e, então, me dei conta de que havia muitos meses que não sorria. Decidimos em conjunto aprofundar a minha luta pelo resgate da essência perdida, revivendo mentalmente momentos positivos marcantes ocorridos não apenas na infância, mas também na adolescência e até na fase adulta antes do acidente.
O terapeuta me explicava que as memórias emocionais são as que orientam nossas percepções. E, realmente, a partir dessas boas lembranças, fui me reconstituindo, percebendo-me novamente, avançando mais e mais na minha jornada de volta à vida. Repetia com frequência: “Eu não quero e não posso mais deixar que o trauma apague quem eu sou e a minha vida”, e esse pensamento foi decisivo no meu processo de superação…
Jamais Esqueça Quem Você É… um Vencedor!
Hoje, sinto-me fortalecido em minha própria essência. Quando cheguei à terapia, estava distante de mim mesmo. Era como se o acidente tivesse tomado a minha vida de mim, passando a controlá-la sem que eu pudesse modificar esse estado. Durante a psicoterapia, pude voltar para o meu mundo, que inclui eu mesmo, minha família, os amigos e o trabalho. Também voltei a ser capaz de dirigir carros, os quais me levam para onde eu realmente quero ir.
Certamente, não me esqueci do acidente. É uma cicatriz, assim como aquelas que trago em uma das pernas, que sofreu várias fraturas expostas. Quando olho para essas marcas, muito além do machucado, percebo o quanto aprendi com o trauma pelo qual passei. No final das contas, ele comprovou que eu sou, de fato, um vencedor, pois consegui tomar nas mãos, pela segunda vez em uma só existência, as rédeas da minha vida, algo que por muitos meses acreditei estar definitivamente fora do meu alcance.
Uma outra lição importante que a experiência traumática me proporcionou é que podemos controlar apenas as variáveis que estão ao nosso alcance; as outras, devemos entregar a Deus e seguir cada um em seu caminho, fazendo a sua parte.
A propósito, este é o melhor conselho que eu posso dar a quem, por uma dessas peças que o destino prega, também passou ou está passando por algo semelhante: tomem as rédeas de suas vidas, porque nada é mais forte do que um ser humano cheio de motivação e ciente dos seus objetivos. Estamos aqui para vencer e temos de fazer jus a esta profecia. Ainda que nos sintamos incapazes disso por algum tempo após um acidente grave, saibam que temos a capacidade de enfrentar desafios e superar dificuldades, resgatando nesse processo nossa verdadeira essência interior e os valores mais preciosos.
Sigamos em frente!
O terapeuta Júlio Peres fala sobre como a regressão de memória pode ajudar na superação dos problemas difíceis na revista Difusão Feal.
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