Para o psicólogo Julio Peres, garantir a segurança e dar oportunidade à criança de expressarem as suas emoções são os primeiros passos para superação do trauma
O trauma psicológico envolve situações inesperadas com expressão emocional/sensorial superior a capacidade do indivíduo de processar cognitivamente essas excitações. Não existe uma resposta universal para o trauma, é natural que diferentes reações pós-traumáticas sejam apresentadas como, por exemplo: estado de alerta contínuo, insônia, pesadelos, isolamento, silêncio, estado de choque, amortecimento emocional, agressividade, medo, entre outras. Respostas de hiperestimulação (medo e alerta) são comuns, como se o trauma fosse acontecer novamente. Alguns cuidados específicos podem abreviar mais facilmente o sofrimento e construir a superação das pessoas que apresentam sintomas pós-trauma.
“Garantir a segurança do ambiente é o primeiro passo do processo de superação traumática. Nenhuma estratégia terapêutica poderá ajudar se a pessoa traumatizada ainda estiver em contato com o evento estressor e, portanto, em risco para re-traumatização. Porém, para poder transmitir essa mensagem de segurança, os pais devem acreditar nela, isto é: se a embalagem emocional não estiver de acordo com o conteúdo, o efeito pode ser muito pior quanto a angústia, a incerteza da dupla mensagem e a dissociação provocadas”, explica Julio Peres, psicólogo clínico e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP.
O segundo passo é favorecer que a criança expresse em palavras (ou em expressões artísticas como desenhos), as suas emoções, angústias e sensações para significar e representar a ocorrência traumática. Conforme o psicólogo, ao invés de alguns pais evitarem falar sobre o assunto traumático na tentativa de proteger os seus filhos, eles devem escutar seus filhos várias e várias vezes. “Além disso, os pais devem abordar o evento traumático com clareza e calma, sem ocultar os fatos”, ressalta.
O acesso a exemplos de superação ajudam na representação de uma nova perspectiva para saída do trauma, gerando uma esperança que contrapõe o sofrimento: ‘se ele superou, eu também posso’. Por isso, a ajuda profissional somada ao apoio e segurança passados pelos pais, permitirão que essas crianças consigam superar o trauma, servindo também de exemplo para outras pessoas.
“Contudo, se após quatro semanas os sintomas continuarem, é preciso procurar ajuda profissional. Com a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra especializados em Transtorno de Estresse Pós-Traumático, a criança conseguirá atribuir significados aos fatos e em seguida ressignificá-los na direção da superação”, completa o psicólogo Julio Peres.
Entrevista com o Dr. Julio Peres “Como ajudar as crianças a lidar com o trauma”