Psicólogo Julio Peres palestra sobre o tema durante a VI Jornada UNIMED RECIFE de Atualização em Pediatria, no dia 23 de julho
Os chamados “pais tóxicos” agridem física e psicologicamente seus filhos, causando sequelas que podem se arrastar por toda a vida. E mesmo quando os pais alternam atitudes carinhosas e agressivas, o reflexo no desenvolvimento dos filhos ainda é negativo. Segundo o psicólogo clínico e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP, Julio Peres, a criança nunca sabe o que esperar e nem como agir. “Ela manifesta com freqüência o estado de alerta que pode provocar a ansiedade crônica.”
Lidar com a situação fica ainda mais complicado quando a agressão vem daqueles que deveriam dar amor e proteção. E as consequências disso são agressividade, dificuldade de aprendizado, rebeldia, timidez e um enorme sentimento de culpa. Segundo estudos, para os pais agirem assim há diferentes explicações.
“Há quem diga que os ‘pais tóxicos’ agem desta forma porque criaram bloqueios para a construção de uma ligação afetiva com os filhos; outra hipótese é que também tenham sido maltratados na infância, assimilando o sofrer como sendo a forma de educar e passam de vítimas a agressores; e a última é admitirem que realmente são pessoas desprovidas de afeto”, pontua Julio Peres, que abordará o tema durante a VI Jornada UNIMED RECIFE de Atualização em Pediatria.
Porém, as sequelas das humilhações e dos maus-tratos precisam ser tratadas para que a criança, o adolescente ou mesmo esse adulto possam ter uma vida mais saudável. Segundo Julio Peres, para quem chegou à vida adulta traumatizado, a psicoterapia é um caminho. “Revisitar memórias traumáticas pode ter benefícios terapêuticos, desde que um processo adequado de reestruturação seja empregado. A história precisa ser recontada de maneira a construir uma aliança de aprendizado e superação. Em outros, talvez essa vítima precise ter uma distancia saudável dos pais para que possa superar os maus-tratos e as humilhações.”
“Trauma e Superação: o que a Psicologia, a Neurociência e a Espiritualidade ensinam”
Experiências traumáticas podem criar oportunidades de crescimento pessoal através da introdução de novos valores e perspectivas para a vida. As psicoterapias atuais enfatizam as estratégias de superação utilizadas naturalmente por indivíduos resilientes (com a capacidade de atravessar situações traumáticas e voltar a qualidade de vida satisfatória).
“Além de nossos estudos no Brasil, há um crescente número de publicações cientίficas sobre o crescimento pós-traumático de indivíduos acometidos por acidentes, enfermidades, internações hospitalares, violência urbana e doméstica, assalto, estupro e desastres naturais, que buscam ajuda especializada”, afirma Julio Peres, Autor do livro “Trauma e Superação: o que a Psicologia, a Neurociência e a Espiritualidade ensinam”. “Observamos que a angústia e o crescimento pós-trauma podem caminhar juntos quando uma aliança de aprendizado com o sofrimento é construída, favorecendo a melhora da qualidade de vida.”
Cinco fatores geralmente estão envolvidos nesta melhora:
1) desenvolvimento de novos interesses e objetivos,
2) apreciação e valorização da vida,
3) melhor relação familiar e interpessoal,
4) resgate da religiosidade e espiritualidade no dia-a-dia e
5) descoberta de força e recursos pessoais para superação de adversidade.
ENTREVISTA CONCEDIDA A Revista Isto É.