Neurociência: as respostas do cérebro às emoções

Por Eliana Haddad

 

Julio Peres é psicólogo, doutor em neurociências pela USP e pós-doutor pela UNIFESP e pela Universidade da Pensilvânia (EUA). Referência em manejos terapêuticos relacionados à saúde mental e à qualidade de vida, foi pioneiro em pesquisas sobre os efeitos neurobiológicos da psicoterapia com métodos de neuroimagem. Suas contribuições sobre os mecanismos de superação traumática, sobre a integração da espiritualidade na prática clínica e as experiências mediúnicas, publicadas em respeitados periódicos científicos, impactaram a comunidade acadêmica, inclusive internacional. Autor do livro Razão & prática: olhares terapêuticos sobre o significado e o uso das palavras,Julio fala ao Correio sobre os avanços dos estudos da neurociências e sobre recursos terapêuticos para uma existência com mais equilíbrio.

Como as neurociências auxiliam a compreensão da atuação dos nossos sentimentos no nosso corpo físico? 

 

As neurociências têm trazido avanços significativos na compreensão de como nossos pensamentos, sentimentos e emoções são mediados pelo cérebro, que ‘informa’ nossos corpos sobre como proceder. As cascatas de reações fisiológicas são disparadas a partir de nossas percepções sobre como nos relacionamos com o mundo exterior e interior. Quando pessoas com transtornos ansiosos percebem a proximidade com um agente fóbico, os circuitos neurais associados à amígdala comunicam com o sistema nervoso autônomo, que responde de imediato, acelerando os ritmos cardíacos e respiratórios em descargas noradrenérgicas, configurando um estado de prontidão para ‘luta ou fuga’ em relação ao suposto agressor, como se o indivíduo estivesse próximo à iminência de morte. A continuidade de níveis elevados de estresse e ansiedade pode aumentar a produção de cortisol e causar efeitos prejudiciais sobre o sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a várias doenças. Tal excesso de cortisol se torna neurotóxico, isto é, pode danificar os neurônios, especialmente dos circuitos hipocampais, prejudicando a memória e o aprendizado. 

 

Por que e como a qualidade das nossas emoções interfere no funcionamento dos nossos neurônios?

 

Nossos sentimentos estão intimamente ligados à liberação de neurotransmissores e hormônios. Experiências emocionais positivas, como o amor e o contentamento, estimulam a liberação de oxitocina, dopamina e serotonina, que promovem sensações de bem-estar, vinculação social e pertencimento, contribuindo para a saúde geral. Estudos indicam que estados emocionais negativos recorrentes, como o medo, a raiva e aversões, podem aumentar os níveis de marcadores inflamatórios no sangue, impactando o adoecimento, às vezes com severidade. A inflamação crônica pode prejudicar a comunicação neuronal e está ligada a doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Por isso, além da psicoterapia, recomendam-se práticas que ‘tranquilizam’ o sistema nervoso central, como a empatia, o perdão, a oração, a gratidão, a tranquilidade, a meditação e a segurança, que estão associadas à redução da inflamação, à melhora da saúde e da qualidade de vida.

 

Em termos espirituais, qual o papel do autoconhecimento para uma vida mais saudável?

 

Ao reconhecer e compreender nossos pensamentos, emoções e comportamentos ofertamos a nós mesmos a preciosa oportunidade de escolhermos conscientemente por caminhos saudáveis, em vez de atuarmos com padrões inconscientes de comportamentos. Muitas dinâmicas de comportamentos patológicos foram aprendidas em situações específicas do passado. Serviram de alguma maneira para garantir a sobrevivência. Ao identificarmos as origens desses padrões negativos, podemos nos desidentificar do passado e fortalecer com exercícios terapêuticos diários os comportamentos alinhados à nossa evolução pessoal e espiritual. Esse processo de autoconhecimento, transformação íntima e comportamental promove naturalmente a saúde e o bem-estar longevos. Além disso, o autoconhecimento nos aproxima de nossos planejamentos espirituais para a presente encarnação e de nossa verdadeira essência para vivermos com propósitos autênticos e significativos.

 

A mudança de nossas atitudes, então, pode reformular a plasticidade do nosso cérebro, curando-nos de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e fobias?

 

Sim, a plasticidade neural é diretamente influenciada por nossas s, aprendizados, atitudes mentais e consequentes comportamentos. Estamos todos em processos de evolução espiritual por meio das vidas sucessivas. Nossos cérebros que medeiam as experiências como encarnados possuem a notável e divina capacidade de reorganização conforme nossas necessidades evolutivas, que chamamos de neuroplasticidade. Temos observado que as mudanças de nossas percepções, compreensões e atitudes relacionadas ao trauma por meio da psicoterapia remodelaram circuitos neurais associados à dor emocional e promoveram novos arranjos sinápticos e plasticidades correlacionados ao bem-estar. Vale lembrar que um dos principais fatores de resiliência se relaciona com a busca de significado e aprendizados decorrentes das adversidades e dores que todos enfrentamos. Assim como esse, outros fatores de manejo e superação de transtornos ansiosos e depressivos estão embutidos em nossa perspectiva de aprendizado para uma existência significativamente melhor, que também influencia os próximos mais próximos e distantes.

Nesses trinta anos de clínica em psicoterapia, o que você descobriu em relação à superação dos conflitos emocionais, no que se refere à interação corpo-mente? 

 

A intrínseca relação entre mente, corpo e espírito é uma realidade a ser considerada nos processos terapêuticos; caso contrário não haverá a construção do aprendizado por completo, mas a fresta para reincidência do sofrimento. Observamos melhoras significativas na percepção e na vibração espiritual ao reestruturarmos cognitivamente os padrões de pensamento disfuncionais que geravam sintomas de diversas magnitudes. O conhecimento claro e o cultivo das virtudes têm uma relação importante com os processos de aprendizados necessários à dissolução das dores emocionais. 

 

É sobre isso que você fala em seu novo livro?

 

Sim. No livro, apresento a origem etimológica das 26 palavras mais utilizadas em psicoterapias bem-sucedidas que indicam caminhos para se viver melhor. Procurei também abordar sobre as falsas crenças a respeito da competitividade e de outros fatores patogênicos com dados históricos e estudos antropológicos sobre os reais fatores que impactaram positivamente a humanidade. E falo sobre as virtudes. Elas estão em forma de aplicabilidade prática associada à saúde longeva. 

Uma das palavras que você analisa no livro é “resiliência”. Silenciar aumenta o peso dos sofrimentos?

 

Sim, a tentativa de silenciar a dor ao longo do tempo tende a aumentar a dimensão dos sofrimentos. Na maioria das vezes, leva ao isolamento, à solidão, à desesperança. A ausência da expressão e validação verbal podem amplificar ainda mais o sofrimento, dificultando o acesso à resiliência. A repressão das emoções pode levar a um acúmulo de tensões, assim como ao desenvolvimento de sintomas, como dores crônicas, fibromialgia, distúrbios do sono e até mesmo transtornos depressivos e ansiosos. A resiliência envolve a capacidade de reconhecer, verbalizar, enfrentar, processar e integrar as experiências dolorosas, permitindo que elas se transformem em aprendizados e crescimento saudáveis. Essa possibilidade é facilitada pela expressão verbal. A verbalização e o processamento das emoções reduzem a ativação da amígdala (área do cérebro associada ao medo) e aumenta a atividade no córtex pré-frontal, correlacionado à categorização da experiência e a regulação emocional. 

 

Qual o papel da vontade e do esforço do espírito para superar culpas ou eventos traumáticos?

 

Superar culpas e eventos traumáticos não é um caminho fácil, porque envolve o enfrentamento de memórias dolorosas para reconstrução da narrativa pessoal de maneira que faça realmente sentido. A determinação e o empenho pessoal são fundamentais ao crescimento após experiências difíceis. A disposição de olhar para dentro de si mesmo, confrontar os sentimentos dolorosos e tomar ações que promovam a transformação é um ato do coração, isto é, envolve coragem. O desejo e a intenção clara de promover mudanças destacam a energia necessária para a jornada de superação, que envolve um compromisso responsável com os cuidados pessoais para alcance do bem-estar.

 

O que há de novo nos estudos em neurociências e inteligência artificial? Seria possível reproduzir a consciência humana com os conhecimentos que a ciência reúne hoje? 

 

Considero que dissecar e reproduzir o irretorquível número de variáveis (personalidade, temperamento, emoções, representação e a articulação simbólica do conhecimento, inclinações idiossincráticas, coerência situacional, flexibilidade adaptativa, etc.) que compõem a identidade humana seja impossível. Muitas tentativas continuam, mas a engenharia computacional associada às neurociências não conseguiram criar o senso de individualidade carregado de emoções, temperamento, desejos e livre-arbítrio nos robôs de I.A., e que assim se tornariam supostas ‘criaturas’. A mais avançada complexidade computacional não contém os ingredientes da vida anímica, porque a consciência e seu funcionamento vão muito além das propriedades que obedecem aos princípios da física clássica. Lembramos que Penfield (1978), depois de seus estudos com estimulação elétrica do cérebro para mapear as funções corticais, advertiu que as redes neurais isoladamente não seriam capazes de produzir a consciência, afirmando: “A mente tem uma existência distinta do cérebro, embora esteja intimamente relacionada a ele. Não há local no córtex cerebral onde a estimulação elétrica fará o paciente decidir”. 

 

Em nosso estágio evolutivo, como podemos melhor aproveitar esta reencarnação com as descobertas apontadas pela neurociência?

Estudos populacionais sobre qualidade de vida mostraram que as pessoas com altos índices de cooperatividade, voluntariado, ao bem-estar de grupos e comunidades reportaram mais afetos positivos, bem-estar, felicidade e satisfação com a própria existência. As neurociências revelam que o bem-estar humano não é dirigido unicamente pelo resultado material, mas especialmente pela solidariedade, cooperação e bondade. Áreas do cérebro relacionadas ao contentamento, satisfação, são ativadas durante atitudes virtuosas, generosas, leais e de cooperação. Portanto, assim como os estudos sobre felicidade e qualidade de vida indicam, as neurociências evidenciam que “as pessoas que realmente se sentem bem, fazem o bem”.

 

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56% dos brasileiros nunca buscaram profissionais para lidar com ansiedade

 

Segunda edição de mapeamento sobre saúde mental no país mostra que índice chega a 65% entre homens; situação financeira é a maior preocupação.

Por Paula Felix 

13 jun 2024, 19h43 

 

O Brasil figura entre os países mais ansiosos do mundo, chegando a liderar o ranking no ano passado segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar disso, uma expressiva parcela da população não busca suporte para a saúde mental. De acordo com a segunda edição do “Panorama da Saúde Mental realizado pelo Instituto Cactus e AtlasIntel, 56% dos brasileiros afirmaram nunca ter procurado um profissional da saúde para lidar com transtornos de ansiedade. Entre homens, a situação é pior e o índice chega a 65%.

Os dados foram coletados no segundo semestre do ano passado por meio de um questionário on-line feito com 3.266 pessoas com mais de 16 anos de diferentes regiões do país. 

No questionário, foram feitas perguntas sobre sentimentos e pensamentos dos participantes, como o interesse ou prazer em realizar atividades, se tinham dificuldades para dormir, sensação de cansaço, dificuldade de concentração, lentidão, agitação, falta de apetite ou se estavam comendo em excesso. Uma escala de frequência ajudava a medir como esses eventos estavam impactando a rotina dos entrevistados.

 O relatório com a análise dos dados mostra quão ansiosos são os brasileiros e também os efeitos desse problema de saúde mental: 73% dos entrevistados se preocupam com assuntos diversos, dos quais 30% afirmaram que se preocupam quase diariamente. Ainda de acordo com os resultados, 68% disseram que se sentem nervosos, ansiosos ou muito tensos e 64% reportaram dificuldade para relaxar (cerca de um quarto reportou se sentir assim quase todos os dias). “

O índice possibilita um acompanhamento sistemático e global da saúde mental da população brasileira, informando aos tomadores de decisão e à sociedade como um todo sobre um assunto crucial, estigmatizado e ainda pouco abordado nos espaços público e privado”, diz, em nota, Maria Fernanda Resende Quartiero, diretora-presidente do Instituto Cactus. 

Além da ansiedade, apareceu a principal preocupação da população: 82% afirmaram que é a situação financeira. A consequência disso são problemas na hora de dormir. Segundo o levantamento, 56% perdem o sono por causa das preocupações, 71% dormem menos de 6 horas ao menos uma noite e 16% usam medicamentos para dormir com prescrição médica.

Para a pesquisa, foi calculado ainda o Índice Contínuo de Avaliação da Saúde Mental (ICASM), que determina o estado geral da saúde mental da população brasileira. De uma escala de 0 a 1.000, o ICASM brasileiro foi de 640 em uma avaliação que considerou três dimensões consideradas em pesquisas de saúde mental em nível global: confiança, vitalidade e foco. 

Ajuda para lidar com ansiedade O índice de brasileiros que nunca buscaram um especialista para lidar com a ansiedade foi de 55,8% com percentual de 65,4% de homens. “Ainda que pesquisas mostrem que homens são menos afetados por transtornos mentais que as mulheres, não podemos ignorar como as convenções sociais ainda tratam as queixas relacionadas a saúde mental como algo inversamente proporcional a masculinidade, o que pode contribuir para que menos homens procurem ajuda”, conclui o relatório. 

Psicólogo clínico e neurocientista, Julio Peres diz que os transtornos de ansiedade estão aumentando, principalmente nos centros urbanos, e que são condições que precisam de acompanhamento especializado, tanto em mulheres quanto em homens. 

“Ansiedade em uma palavra é medo e, dificilmente, os homens assumem seus medos. Há facetas da ansiedade, como o transtorno do estresse pós-traumático, do pânico e fobias específicas, e, caso não sejam cuidadas ou tratadas, podem se tornar crônicas e evoluir para doenças psiquiátricas. É um tema fundamental para a vida e para a qualidade da existencia”, alerta. 

 

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/saude/56-dos-brasileiros-nunca-buscaram-profissionais-para-lidar-com-ansiedade/  

https://veja.abril.com.br/saude/56-dos-brasileiros-nunca-buscaram-profissionais-para-lidar-com-ansiedade/#google_vignette )

 

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Entrevista Globo Reporter

"Descubra o poder da Regressão Espiritual: Como se conectar com vidas passadas para transformar sua jornada atual" Introdução: A Regressão Espiritual é uma técnica que tem ganhado popularidade nos últimos anos por ajudar as pessoas a explorar suas vidas passadas e descobrir as lições que podem ser aplicadas no presente. Neste post, vamos explorar o que é a Regressão Espiritual, como ela funciona e como pode ser benéfica para sua jornada pessoal. O que é Regressão Espiritual? A Regressão Espiritual é uma técnica que utiliza a hipnose para ajudar as pessoas a se conectar com suas vidas passadas. Durante a sessão, o terapeuta guia o paciente para um estado de relaxamento profundo e, em seguida, para um estado de transe. Uma vez nesse estado, o paciente é capaz de se conectar com suas vidas passadas e explorar os eventos e experiências que moldaram sua jornada atual. Como funciona a Regressão Espiritual? A Regressão Espiritual funciona ao acessar a mente inconsciente, permitindo que o paciente explore seus pensamentos e emoções mais profundos. O terapeuta utiliza sugestões para guiar o paciente para uma vida passada específica, permitindo que o paciente explore as memórias e as emoções associadas a essa vida. Essa técnica pode ser usada para ajudar as pessoas a superar traumas, entender padrões de comportamento e encontrar um propósito mais significativo na vida. Benefícios da Regressão Espiritual: Existem muitos benefícios associados à Regressão Espiritual. Alguns dos benefícios incluem: Compreensão mais profunda de si mesmo e dos outros Resolução de traumas e bloqueios emocionais Melhoria da autoestima e autoconfiança Descoberta de um propósito de vida mais significativo Aumento da empatia e compaixão pelos outros Conclusão: A Regressão Espiritual é uma técnica poderosa que pode ajudar as pessoas a explorar suas vidas passadas e encontrar um significado mais profundo em suas vidas atuais. Se você está interessado em explorar esta técnica, procure um terapeuta qualificado e comece sua jornada de autoconhecimento e transformação
regressão espiritual
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Entrevista Folha Espírita

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Entrevista Folha Espirita: Deve a psicoterapia considerer a
reencarnação?


1- Qual é o limite da crença do psicólogo diante da crença do paciente?
O artigo “Deve a psicoterapia considerer a reencarnação?” (Should
psychotherapy consider reincarnation?


http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22297317), que recentemente publiquei
no Journal of Nervous and Mental Disease, discute essa importante questão.
Há um crescente reconhecimento da necessidade de se levar em conta o
ambiente cultural e os sistemas de crenças dos pacientes na psicoterapia.
Respeitar as opiniões e realidades subjetivas do paciente é uma necessidade
terapêutica e um dever ético, mesmo que os profissionais não compartilhem
das mesmas crenças. As informações obtidas na psicoterapia devem ser
sobre o que os pacientes acreditam, o que exige conhecimento de
estratégias objetivas para otimizar o enfrentamento e a superação de suas
dificuldades com base neste sistema de crenças.


2- A população brasileira está aberta aos conceitos reencarnacionistas?
Há dados sobre a crença na reencarnação em outros países?


Sim. Em todo o mundo há um grande número de pessoas que crêem na
reencarnação. Segundo dados do World Values Survey, tal crença é
professada por 22,6% da população nos países nórdicos, 27% na Europa
Ocidental, 20,2% na Europa Oriental; já nos Estados Unidos o número chega
a 27% (Gallup, 2003) e no Brasil apenas 44% da população não acredita na
reencarnação (Data Folha, 2007).


3- Como as abordagens psicoterápicas trabalham com pacientes que
acreditam em vida após a morte?
Os métodos usados em reconhecidos enfoques psicoterapêuticos, tais como
o behaviorismo de Watson, psicanálise de Freud, ou a terapia cognitivacomportamental de Beck não levam em conta a crença na vida após a morte,
professada pela maior parte da população mundial (World Values Survey). A
crescente experiência no âmbito psicológico aponta para a importância do
surgimento de abordagens terapêuticas não-dogmáticas que levem em conta
e valorizem as realidades sócio-culturais das grandes e pequenas
comunidades. Muitas pessoas acreditam que as suas atuais dificuldades
possam estar relacionadas a ocorrências traumáticas em vidas anteriores. É
fundamental que os psicoterapeutas respeitem essas crenças subjetivas
trazidas pelos pacientes. Assim como qualquer pessoa pode procurar
tratamento psicológico alinhado aos seus valores e crenças, a reencarnação
deve ser levada em conta pelos psicoterapeutas, que devem procurar
formação adequada em abordagens coerentes e eficazes sem misticismo ou
práticas divinatórias, tal como mostrei no artigo “Should psychotherapy
consider reincarnation?” – conforme nossos conhecimentos, a primeira
publicação científica sobre a interface equilibrada entre reencarnação e
psicoterapia.


4- Trabalhar com a crença dos pacientes favorece melhor resultado em
tratamentos psicoterápicos?
Certamente! Parte fundamental da cultura, as crenças religiosas têm papel
importante na formação de juízos e no processamento de informações,
auxiliando muitas pessoas a organizarem ou compreenderem eventos
dolorosos, caóticos e imprevisíveis que podem gerar sintomas diversos. O
coping (manejo) religioso é muito utilizado no enfrentamento de eventos
traumáticos e na maioria das vezes, conforme experiência clínica e centenas
de publicações, o efeito é favorável a superação. Por exemplo, a crença na
reencarnação – envolve um ciclo contínuo de aprendizado e evolução através
das vidas sucessivas – é encontrada ao longo da história humana em
diferentes épocas e culturas. Do ponto de vista dos pacientes
reencarnacionistas, as dificuldades são transitórias e podem ser superadas
quando suas lições que as adversidades trazem são absorvidas.


5- Em quais momentos a religião pode interferir negativamente na vida
do indivíduo?
O coping religioso pode também trazer efeitos negativos em alguns casos,
quando por exemplo, o indivíduo acredita que está sendo castigado por
Deus, ou que merece sofrer porque fez algo imperdoável. Por isso, os
profissionais devem estar preparados para o bom manejo terapêutico dos
sistemas de crenças que podem tanto favorecer o sofrimento quanto a
promoção da saude e do crescimento.

  1. Quais os riscos que os pacientes correm com profissionais sem
    formação para abordar adequadamente a reencarnação durante a
    psicoterapia?
    Infelizmente o risco é importante. Recentemente um artigo no The New York
    Times (Lisa Miller) afirmou que o interesse na reencarnação está em
    ascensão, e os responsáveis pela divulgação não são monges ou teólogos,
    mas terapeutas. Esta notícia nos indica uma abertura terapêutica saudável,
    mas também uma preocupação com ‘falsos-terapeutas’ ou profissionais que
    não possuem um treinamento clínico adequado para conduzir a psicoterapia.
    Atribuir significados aos sintomas de ansiedade, desajuste, fobia específica
    ou estresse pós-traumático, alinhados aos conteúdo de vidas passadas – se
    essa for a crença do paciente – pode favorecer a atenuação ou libertação dos
    sintomas.
    7- Há linhas de pesquisas que investigam a reencarnação? Quais as
    principais?
    Além dos estudos sobre lembranças espontâneas de crianças de suas vidas
    passadas (Stevenson, 1974; Haraldsson et al., 1975; Stevenson, 1987;
    Haraldsson, 1991; Stevenson, 2000; Tucker, 2005; Keil et al., 2005), várias
    outras linhas de pesquisa têm encontrado evidências sugerindo vida após a
    morte, incluindo-se lembranças traumáticas espontâneas de vidas anteriores
    com marcas congênitas correspondentes (Stevenson, 1993; Stevenson, 1997;
    Keil et al., 2000 ; Stevenson, 2001; Pasricha et al., 2005), xenoglossia
    (conhecimento de um idioma não aprendido, Stevenson; 1984), casos
    terapêuticos de regressão com detalhes verificáveis (Wambach, 1978),
    experiências de quase morte e experiências fora do corpo com detalhes
    verificáveis (Morse et al., 1991; Greyson, 2000; Van Lommel, 2001; Athappilly
    et al., 2006; Greyson, 2007), e psicografias recebidas via médiuns com
    detalhes particulares não conhecidos do médium e dos familiares vivos antes
    de receberem as mensagens psicografadas (Severino, 1994). Contudo, a
    psicoterapia não tem como objetivo provar algo, mas deve considerar a crença
    dos pacientes, independentemente das razões que os levam a acreditar em
    reencarnação, tais como: vestígios da era pré-cristã, influências de
    escrituras/filosofias ocidentais e asiáticas, necessidade de encontrar uma
    explicação plausível para questões existenciais, experiências e recordações
    pessoais de vidas passadas, ou enquadre cognitivo para lidar com a dor da
    perda de entes queridos. Como todos, os reencarnacionistas buscam
    tratamentos psicológicos que levem seus sistemas de crenças em
    consideração. Aceitar a realidade subjetiva e os pontos de referência do
    próprio indivíduo que busca auxílio são preditores de resultados terapêuticos
    satisfatórios.
  2. Qual a opinião dos conselhos de classe sobre abordar as crenças
    religiosas dos pacientes em psicoterapia?
    Diante das centenas de artigos científicos a respeito da importancia de
    considerar a crença dos pacientes, o Conselho Federal de Psicologia em
    nota pública esclarece que “A Psicologia é uma ciência que reconhece que a
    religiosidade e a fé estão presentes na cultura e participam na constituição da
    dimensão subjetiva de cada um de nós”. Vale ressaltar que, a integração da
    crença reencarnacionista durante a psicoterapia requer profissionalismo,
    conhecimento e capacidade de alinhar as informações coletadas sobre os
    valores do paciente para o benefício do seu processo terapêutico.
  3. De que forma o psicólogo pode abordar a questão da reencarnação
    com seus pacientes?
    Estar confortável para abordar com o paciente temas sobre espiritualidade e
    religiosidade como a reencarnação é o primeiro de uma série de passos para
    que o processo terapêutico siga as diretrizes éticas. Iniciaremos em agosto
    de 2012 o curso Reencarnação e Psicoterapia: como abordar eticamente as
    crenças espirituais dos pacientes que buscam psicoterapia (veja programa
    completo em www.julioperes.com.br). Entre outras perguntas frequentes dos
    psicoterapeutas, esclarecemos no curso: Quais são os limites profissionais
    quando temas religiosos e/ou espirituais são trazidos? Como psicólogos
    podem discutir reencarnação com seus pacientes? Quais são os riscos e as
    contra-indicações desta prática? Temos como objetivo fornecer aos
    psicoterapeutas conhecimento e treinamento de estratégias/manejo para
    abordar eticamente os pacientes reencarnacionistas que buscam psicoterapia
    e otimizar o enfrentamento de suas dificuldades com base neste sistema de
    crenças.
    10- Para quem o curso Reencarnação e Psicoterapia: como abordar
    eticamente as crenças espirituais dos pacientes que buscam
    psicoterapia e dedicado e quais serão os professores?
    O curso é destinado a Psicólogos, Médicos e Estudantes das respectivas
    áreas e os professores são Dra. Maria Julia Prieto Peres, Dra. Juliane Prieto
    Peres Mercante e Dr. Jul
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Entrevista CRP

Entrevista Dr Julio Peres concedida ao Conselho Regional de Psicologia (CRP-PR)

 

  1. O psicólogo não discute a lógica da fé ou sua veracidade. Cabe-lhe apenas a tarefa de estudar como se forma, como se desenvolve e que funções desempenha na vida do indivíduo. Levando isso em consideração, qual é o limite da crença do psicólogo diante da crença do paciente?

 

O artigo “Deve a psicoterapia considerer a reencarnação? (Should psychotherapy consider reincarnation? http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22297317), que recentemente publiquei no Journal of Nervous and Mental Disease, discute essa importante questão (veja o artigo em clinicajulioperes.com.br). Há um crescente reconhecimento da necessidade de se levar em conta o ambiente cultural e os sistemas de crenças dos pacientes na psicoterapia. Respeitar as opiniões e realidades subjetivas do paciente é uma necessidade terapêutica e um dever ético, mesmo que os profissionais não compartilhem das mesmas crenças. As informações obtidas na psicoterapia devem ser sobre o que os pacientes acreditam, o que exige conhecimento de estratégias objetivas para otimizar o enfrentamento e a superação de suas dificuldades com base neste sistema de crenças.

 

  1. Em quais momentos a religião pode servir como apoio? Como estabelecer essa relação sem interferir nas especificidades de uma crença?

Parte fundamental da cultura, as crenças religiosas têm papel importante na formação de juízos e no processamento de informações, auxiliando muitas pessoas a organizarem ou compreenderem eventos dolorosos, caóticos e imprevisíveis que podem gerar sintomas diversos. O coping religioso é muito utilizado no enfrentamento de eventos traumáticos e na maioria das vezes, conforme experiência clínica e centenas de publicações, o efeito é favorável a superação. Por exemplo, a crença na reencarnação – envolve um ciclo contínuo de aprendizado e evolução através das vidas sucessivas – é encontrada ao longo da história humana em diferentes épocas e culturas. Do ponto de vista dos pacientes reencarnacionistas, as dificuldades são transitórias e podem ser superadas quando suas lições que as adversidades trazem são absorvidas.

  1. Em quais momentos a religião pode interferir negativamente na vida do indivíduo?

 

O coping religioso pode também trazer efeitos negativos em alguns casos, quando por exemplo, o indivíduo acredita que esta sendo castigado por Deus, ou que merece sofrer porque fez algo imperdoável. Por isso, os profissionais devem estar preparados para o bom manejo terapêutico dos sistemas de crenças que podem tanto favorecer o sofrimento quanto a promoção da saúde e do crescimento.

  1. Quais os riscos que os pacientes correm com profissionais sem formação para abordar adequadamente a religiosidade durante a psicoterapia?

 

Infelizmente o risco é importante. Recentemente um artigo no The New York Times (Lisa Miller) afirmou que o interesse na reencarnação está em ascensão, e os responsáveis pela divulgação não são monges ou teólogos, mas terapeutas. Esta notícia nos indica uma abertura terapêutica saudável, mas também uma preocupação com profissionais ou ‘falsos-terapeutas’ que não possuem um treinamento clínico adequado para conduzir a psicoterapia. Atribuir significados aos sintomas de ansiedade, desajuste, fobia específica ou estresse pós-traumático, alinhados aos conteúdo de supostas vidas passadas – se essa for a crença do paciente – pode favorecer a atenuação ou libertação dos sintomas. Assim como qualquer pessoa pode procurar tratamento psicológico alinhado aos seus valores e crenças, a reencarnação deve ser levada em conta pelos psicoterapeutas, que devem procurar formação adequada em abordagens coerentes e eficazes sem misticismo ou práticas divinatórias.

  1. De que forma o psicólogo pode abordar a questão da religião com seus pacientes?

 

Estar confortável para abordar com o paciente temas sobre espiritualidade e religiosidade como a reencarnação é o primeiro de uma série de passos para que o processo terapêutico siga as diretrizes éticas. No artigo “Deve a psicoterapia considerer a reencarnação?” mostrei que em todo o mundo há um grande número de pessoas que crêem na reencarnação. Segundo dados do World Values Survey, tal crença é professada por 22,6% da população nos países nórdicos, 27% na Europa Ocidental, 20,2% na Europa Oriental; já nos Estados Unidos o número chega a 27% (Gallup, 2003) e no Brasil a 37% (Data Folha, 2007). Iniciaremos em agosto de 2012 o curso Reencarnacão e Psicoterapia: como abordar eticamente as crenças espirituais dos pacientes que buscam psicoterapia (contato WhatsApp 11 975721848 ou clinicajulioperes.com.br). Forneceremos aos psicoterapeutas conhecimento e treinamento de estratégias objetivas para abordar eticamente os pacientes reencarnacionistas que buscam psicoterapia e otimizar o enfrentamento de suas dificuldades com base neste sistema de crenças. Questionamentos como psicólogos podem discutir reencarnação com seus pacientes?, quais são os limites profissionais quando temas religiosos e/ou espirituais são trazidos? entre outros serão esclarecidos no curso, assim como os riscos e as contra-indicações

desta prática. Vale lembrar que em nota pública o CFP esclarece que “A Psicologia é uma ciência que reconhece que a religiosidade e a fé estão presentes na cultura e participam na constituição da dimensão subjetiva de cada um de nós”. Contudo, a integração da crença reencarnacionista durante a psicoterapia requer profissionalismo, conhecimento e capacidade de alinhar as informações coletadas sobre os valores do paciente para o benefício do seu processo terapêutico.

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