Sim, há mais de três décadas a Psicologia e a Psiquiatria estudam os diferenciais de comportamentos dos numerosos indivíduos que prosperaram (do latim pro+sperare: esperança adiante) após eventos traumáticos como esteios para formulações de estratégias terapêuticas. Em decorrência desses estudos o conceito resiliência vem sendo cada vez mais conhecido por psicoterapeutas. O termo resiliência vem da Física e refere-se à capacidade que um corpo tem de sofrer uma deformação pela ação de um agente externo e voltar à forma natural. Assim também, quando um indivíduo se depara com um evento estressor e sente o seu grande impacto, mas volta à qualidade satisfatória de vida, significa que ele possui ou desenvolveu resiliência. A literatura sobre estresse traumático conta com numerosos relatos de incidentes que revelaram vulnerabilidade e falhas em oferecer proteção efetiva contra a traumatização psicológica. É importante lembrar que resiliência não se trata de um mantra ou um desejado “envelope de segurança” implacável para situações de riscos que envolvem a surpresa. O fator crucial ao desenvolvimento da resiliência está em como os indivíduos percebem sua capacidade de lidar com os eventos e controlar seus resultados. Os diálogos internos de autopiedade, desamparo, autovitimização e autodepreciação podem realçar as emoções negativas relacionadas à memória traumática e exacerbar o sofrimento psicológico. Aos poucos, as pessoas que cultivam diálogos internos de enfrentamento, procurando modificar o presente positivamente, podem superar com os traumas psicológicos. A resiliência não é algo que alguns têm e outros não. Pode ser desenvolvida mesmo por indivíduos com traumas psicológicos e a psicoterapia favorece esse aprendizado.
Entrevista com Dr. Julio Peres concedida ao Jornal Correio Brasiliense