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10 razões para aprender com as derrotas do dia a dia

Equívocos e acertos fazem parte do processo natural de aprendizado que permeia todas as fases do desenvolvimento humano. Todos nós erramos e acertamos no passado e isso continuará acontecendo ao longo da vida. Contudo, os erros e as derrotas podem assumir uma dimensão subjetiva tão expressiva a ponto de desencadear isolamento social, distorções depreciativas da auto-imagem, enfermidades e/ou transtornos mentais como a depressão. O sofrimento decorrente das derrotas depende em boa parte do processamento perceptual e dos diálogos internos que o indivíduo alimenta, e essa “leitura” por muitas vezes se torna um marco, saudável ou não, que influencia as próximas experiências de vida. Relacionei uma síntese dos exemplos práticos de pessoas que cresceram e se desenvolveram psicologicamente com base nos aprendizados adquiridos em suas experiências dolorosas relacionadas à derrota. Estabelecer uma aliança de aprendizado com as derrotas tem despertado muitas pessoas para buscas e reflexões que configuram qualidades de vida geralmente superiores àquelas vivenciadas antes da ocorrência indesejada. Se você sofre com seu erros e derrotas, pense a respeito das 10 boas razões para aprender com as derrotas.

  1. Aceitar que você errou ou foi derrotado não é uma fraqueza. Ao contrário, é um ato de coragem a favor da integração (do latin integrare: tornar-se inteiro) que pode fortalecer o caráter e a disposição para seguir em frente.
  1. O princípio da impermanência (tudo se encontra em movimento e transformação) se mostra em todo o Universo, do micro ao macrocosmo. Ainda que o sofrimento da derrota pareça permanente, lembre-se que esse estado também será passageiro. Pensar sobre novos caminhos para superação e focar o seu investimento nessas possibilidades abreviarão a sua travessia pelo sofrimento.
  1. As derrotas abrem portas para aquisição de conhecimentos relativos as variáveis que não foram consideradas anteriormente. Os conhecimentos adquiridos com a derrota não são restritos ao momento e beneficiarão também outros domínios da vida. Assim, a derrota pode ser apenas parte de uma história de superação. Vale lembrar que a percepção é seletiva e influenciada pelas emoções (positivas ou negativas). Novas oportunidades surgirão especialmente quando você tiver olhos para enxergá-las.
  1. A disponibilidade ao aprendizado confere um estado de ânimo saudável e desarticula autovitimização, que só leva ao sofrimento. O que você diz para si e para os outros sobre o que ocorreu pode tanto aliviar como exacerbar o sofrimento. A fixação em diálogos internos do tipo “Isso é injusto” ou “Não poderia ter acontecido comigo” dificulta a recuperação e favorece a continuidade da dor. Assumir a responsabilidade em relação ao que você pode fazer agora traz de volta o controle para suas mãos e a libertação do passado.
  1. As neurociências mostram que lembrar compreende a reconstrução de informações coerentes por meio de fragmentos disponíveis de modo que o conjunto faça sentido. Assim, o passado é flexível e modifica-se com novas interpretações das recordações e reexplicações do que aconteceu. Se você buscar pelo menos um aprendizado advindo da derrota o sentido da sua história modificará para melhor. O psiquismo é ágil e tal agilidade pode ser orientada a favor do bem-estar.
  1. A superação de um sofrimento está diretamente relacionada ao que a Psicologia chama de Extinção: o indivíduo estabelece uma nova hierarquia de respostas num processo ativo de aprendizado. Assim, as novas associações construídas substituem aquelas que geravam o sofrimento decorrente da derrota.
  1. Criar alianças de aprendizado com as adversidades predispõe e favorece a superação psicológica. De fato, as dificuldades perdem força a medida que o aprendizado por elas trazido for absorvido. O repertório de aprendizados decorrentes de uma derrota pode trazer uma qualidade de vida superior a que você tinha antes mesmo da derrota acontecer.
  1. A maturidade se relaciona indiretamente com o passar do tempo e diretamente com o aprendizado que as experiências trouxeram. Conforme traduz o provérbio oriental “Saber e não fazer, ainda não é saber”. As lições trazidas pelas derrotas tornam o indivíduo mais maduro e portanto, com mais recursos para contornar as adversidades futuras.
  1. A opinião de que se pode aprender e crescer a partir das experiências positivas e negativas influencia os resultados dos eventos e favorece a motivação de encontrar sentido na vida diária. As derrotas, quando bem elaboradas, favorecem a geração de novos objetivos e estratégias para atingi-los. É preciso buscar novos significados para a superação do sofrimento.
  1. Nosso estudo com neuroimagem mostrou o que acontece no cérebro das pessoas que aprenderam com seus sofrimentos. Novas classificações e traços de memória se formam no cérebro, substituindo as conexões neurais anteriores envolvidas com o sofrimento. Essa evidência reforça a importância de aprender com a dificuldade em vez de sucumbir a ela.
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Pontos fortes do Estudo: Police officers under attack

Police officers under attack: Resilience implications of an fMRI study Peres et al., Journal of Psychiatric Research, in press 2011

 Diferenciais do estudo: 

  1. A fragilidade humana mediante ao trauma psicológico (testemunhar colegas feridos pedindo ajuda e morrendo no caos da primeira onda de ataques em 2006) e o processo de superação dos policiais militares foram revelados no estudo.
  1. O estudo reuniu pela primeira vez uma amostra extremamente homogênea (policiais sem comorbidades ou medicamentos, com mesmo trauma e a mesma idade da memória). O único diferencial entre os voluntários estudados foi o trauma psicológico. A literatura apresenta estudos com neuroimagem em pessoas com Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT) que comparam diferentes traumas ocorridos em épocas distintas e pacientes com outros transtornos decorrentes do trauma (ex. Depressão, Fobias, abuso de substâncias, etc.).
  1. A homogeneidade da amostra estudada influenciou os achados neurais precisamente demarcados quanto ao envolvimento do córtex médio pré-frontal (mPFC) e da amígdala esquerda na patologia e na superação do trauma. Indivíduos traumatizados sem psicoterapia mostraram maior atividade da amígdala esquerda e menor atividade do mPFC enquanto os policias submetidos à psicoterapia e os policiais sem sintomas (resilientes) mostraram maior atividade do mPFC e menor atividade da amígdala esquerda.
  1. Foi estudado o evento traumático mais expressivo e sem precedentes para Policiais Militares de São Paulo. A primeira onda de ataques teve impacto traumático jamais vivenciado nos policias ativos na ocasião, que presenciaram seus colegas feridos pedindo ajuda e morrendo, sem qualquer referência do que poderia acontecer em seguida. O trauma psicológico teve relação direta com o fator surpresa.
  1. A eficácia e os efeitos neurobiológicos da psicoterapia foram mostrados em relação ao tratamento do trauma psicológico (primeira linha de escolha terapêutica conforme The Expert Consensus Guideline series, 1999).
  1. Integrar os traços fragmentados de memórias sensoriais/emocionais em narrativas terapêuticas estruturadas é um dos principais desafios para as psicoterapias aplicadas a vítimas de traumas. Indivíduos com TEPT parcial requerem o mesmo nível de cuidados que aqueles com todos os critérios preenchidos conforme o DSM-IV.
  1. Os resultados mostram evidências neurofisiológicas da resiliência em um grupo de alto risco para o desenvolvimento do TEPT. A psicoterapia pôde ajudar os policiais a construírem narrativas resilientes via mPFC, enfraquecendo o conteúdo sensorial/emocional fragmentado das memórias traumáticas (Figuras 2 e 3).
  1. As mesmas pontuações de sintomas e atividade do córtex médio pré-frontal foram observadas nos policiais resilientes e nos policiais traumatizados após a psicoterapia.
  1. A resiliência não é algo que alguns têm e outros não. Pode ser desenvolvida mesmo por indivíduos com traumas psicológicos e a psicoterapia favorece esse aprendizado.
  1. O estudo mostrou que à medida que a classificação cognitiva (narrativa) se desenvolve as expressões fragmentadas sensoriais e emocionais (característica do trauma) diminuem (Figura 3).
  1. O estudo enfatizou a importância da brevidade do atendimento psicológico especializado, uma vez que os indivíduos submetidos à psicoterapia não mais preenchiam os critérios de TEPTp enquanto os indivíduos não submetidos à psicoterapia pioraram os sintomas de TEPT. As pessoas que inicialmente configuram o TEPT parcial podem desenvolver o TEPT crônico, que apresenta risco três vezes maior para emersão de comorbidades como Transtorno Depressivo, Transtorno Somatoforme (ver artigo Peres et al., 2009 Dor de Cabeça/Fibromialgia), Trantorno do Pânico, abuso de substâncias, etc.).
  1. Ao contrário do que esperávamos o cortisol (hormônio relacionado ao estresse) se mostrou em níveis normais nos policiais com TEPT parcial, tal como nos policiais resilientes (sem sintomas). A cronificação do trauma em indivíduos com TEPT está relacionada à menor expressão de cortisol, o que ressalta a importância do apoio psicoterápico especializado logo após a ocorrência traumática para que as respostas autonômicas não sejam danificadas.
  1. Os policias submetidos à psicoterapia mostraram pontuações mais elevadas da narrativa e atenuaram a expressão emocional/sensorial do trauma enquanto os policias não submetidos à psicoterapia mantiveram a pontuação baixa para narrativa e elevadas expressões sensoriais e emocionais do trauma (Figura 3). O estudo revelou uma relação inversamente proporcional entre a expressão narrativa e a expressão sensorial/emocional do trauma: quanto maior a pontuação narrativa menor a pontuação sensorial/emocional e vice-versa.
  1. Todos os policias selecionados apresentaram respostas traumáticas de alerta e hiper-estimulação simpática (expressão noradrenérgica). Os policiais com respostas dissociativas (variável confundidora dos estudos com neuroimagem sobre TEPT) não participaram do estudo.

Pela primeira vez na literatura foi evidenciado que o mPFC tem um papel crítico no desenvolvimento da resiliência. Esse achado só foi possível pela comparação entre os policias resilientes e os policiais traumatizados, que sofreram o mesmo evento estressor.

  1. As características de resiliência mais importantes foram a auto-eficácia, a empatia e otimismo. A religiosidade intrínseca teve um papel ativo na resiliência conforme a escala DUREL e RCOPE. Dois principais fatores de entrentamento religioso mostraram destacada sigfnificancia estatística: (1) “Busquei o amor e o cuidado de Deus” (procura de apoio espiritual) e (2) “Eu procurei colocar meus planos em ação junto com Deus” (enfrentamento religioso colaborativo).
  2. As palavras são os veículos para o processamento terapêutico, relacionado com a atribuição de significados aos acontecimentos passados. Futuras pesquisas deverão abordar as estratégias cognitivas que contribuem para o melhor desenvolvimento da resiliência.
  3. São necessárias mais pesquisas para melhor compreensão dos mecanismos de processamento de experiências traumáticas e superação em indivíduos com TEPT crônico e o mesmo desenho experimental de neuroimagem do presente estudo é promissor.
  4. A construção de pontes entre a psicoterapia e a neuroimagem deve continuar. As duas abordagens complementares e interdependentes podem contribuir para a lapidação de tratamentos eficazes das pessoas psicologicamente traumatizadas.
  5. A conclusão do processamento de um passado traumático inacabado pode libertar as pessoas para viverem no presente.
  6. A psicoterapia pode ajudar, é preciso construir uma aliança positiva com as experiências dolorosas, fortalecer os aprendizados para uma vida melhor e tirar o foco do lado ruim, ainda que este pareça mais evidente. Observo em minha clínica que a superação ocorre quando uma aliança de aprendizado com o sofrimento é construída, favorecendo benefícios adicionais à qualidade de vida anterior à ocor­rência do trauma. Os conhecimentos adquiridos nesse processo não são restritos ao momento e beneficiarão também outros domínios da vida. O sofrimento traumático pode ser de fato apenas parte de uma história de superação.
  7. Três Universidades estiveram envolvidas no estudo (UNIFESP, Faculdade de Ciências Médicas Santa Casa de São Paulo e Universidade Federal de Juiz de Fora) além da Polícia Militar do Estado de São Paulo. A pesquisa esteve vinculada ao pós-doutorado de Julio Peres em Diagnóstico de Imagem pela Radiologia Clínica da UNIFESP.
  8. Você deve falar. Mesmo com dificuldade podemos expressar nossos sentimentos, nossas memórias… Devemos tentar contar a história da melhor maneira que pudermos. Eu aprendi uma coisa: o silêncio nunca ajuda a vítima e envenena a alma (Elie Wiesel, 1996 / Prêmio Nobel da Paz).
  9. Lembrar envolve a reconstrução de uma trama coerente por meio de fragmentos disponíveis (Squire e Kandel, 2003).
  10. O passado é maleável e flexível, modifica com novas interpretações das recordações e re-explicações do que aconteceu (Berger, 1963).
  11. A mente é seu próprio lugar, e em si, pode fazer do céu o Inferno e do inferno o Céu (Milton, 1996).
  12. Crescimento pós-trauma envolve 5 aprendizados: (1) Abertura para novas experiências, interesses e objetivos de vida; (2) Apreciação e valorização da vida; (3) Melhor relação familiar e interpessoal permeada por gratidão, bondade e amor; (4) Desenvolvimento ou resgate da religiosidade/espiritualidade no dia-a-dia e; (5) Descoberta de força, coragem e perseverança para superação de adversidades.
  13. Conforme Peterson C, Park N, Pole N, D’Andrea W, Seligman ME.              Journal Trauma Stress. 2008 Apr;21(2):214-7 o crescimento pós-trauma se relaciona diretamente com o fortalecimento do caráter e o desenvolvimento das virtudes: coragem, justiça, temperança, sabedoria, paciência, amor e esperança.
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Grandes mudanças no cotidiano

Grandes mudanças como um divórcio ou um novo emprego trazem novos paradigmas à vida das mulheres? Por que?

Grandes mudanças geralmente “chacoalham” o conhecido cotidiano e podem criar oportunidades de crescimento pessoal através da reflexão e introdução de novos valores e perspectivas para a vida. A cultura chinesa traz uma interessante contribuição sobre a possibilidade de crescer a partir de acontecimentos dolorosos. A pala­vra ‘trauma’ (chuangshang) é a justaposição de dois caracteres: ‘Criação’ (chuang) e ‘Dor’ (shang). A Psicologia e a Psiquiatria estudam os diferenciais de comportamentos dos numerosos indivíduos que prosperaram (do latim pro+sperare: esperança adiante) após grandes mudanças de vida como esteios para novas formulações de estratégias terapêuticas. A melhora consistente da qualidade de vida das pessoas que após eventos impactantes buscaram a psicoterapia envolve geralmente cinco fatores: desenvolvimento de novos interesses e objetivos, apreciação e valorização da vida, melhor relação familiar e interpessoal, resgate da religiosidade e espiritualidade no dia-a-dia e a descoberta de força e recursos pessoais para superação de adversidades.

Como identificar a hora de recomeçar algo em nossas vidas?

O veloz mundo contemporâneo fornece poucos valores essenciais à vida em equilíbrio. Novas“necessidades” sãoartificialmentecriadas a cadadia, imbuídas da falsapromessade bem-estar. Incentiva-se a pressa, a praticidade e o consumoimediatodos bensque, supostamente, trariam confortoe aplacariam a angústiae a ausênciade sentidoparaa existência. A angústia é o principal termômetro indicador de que já é hora de fazer algo novo com um significado maior para a existência. A temperança e o tempo para um mergulho íntimo são necessários na busca do significado mais amplo para o viver e a psicoterapia tem ajudado muitas pessoas dispostas a mudarem suas vidas para melhor. A organização World Values Survey abordou o sistema de valores humanos em mais de 60 países e mostrou que o bem-estar consistente está relacionado a uma maneira coerente de viver. O desenvolvimento da generosidade, da cooperação e do altruísmo estiveram relacionados tanto ao processo de crescimento pessoal, como a um estilo de vida consistente de felicidade.

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Quais são as principais razões de divórcio da atualidade?

Além das razões já conhecidas como imaturidade de casais jovens e violência, é visível o aumento nas taxas de divórcio pela inadaptabilidade temporária dos gêneros aos novos papéis no contexto familiar. As dificuldades nesse sentido ocorrem das duas partes. Por um lado, o homem em geral, quando não se sente o provedor da família, deprime. Por outro lado, a mulher não encontrou o seu novo lugar, e por falta de modelos tende a agir como se fosse o “homem da casa”. O desafio é encontrar um novo modelo de complementariedade para que o grupo familiar possa crescer integrado e os filhos possam crescer num ambiente pacífico.

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Como as crianças compreendem a morte?

O que aprendemos nos primeiros dois anos de vida talvez seja mais importante que todo o conhecimento reunido ao longo de uma extensa formação acadêmica. Aprender a falar é aprender a traduzir, e atribuir palavras às experiências é criar significado e representação para elas. Vale lembrar que cada criança se desenvolve num ritmo particular e as referências listadas abaixo não podem ser consideradas herméticas.

Crianças até 4 anos de idade não diferenciam propriamente fantasia de realidade, manifestam com freqüencia “pensamentos mágicos” (pautados no mundo subjetivo) e espelham as referências emocionais dos adultos relativas ao tema abordado. Portanto, o “como” a morte é abordada ganha mais saliência em relação a “o que” é expresso em palavras. As crianças saudáveis nesta idade vêem a morte como temporária e reversível, como se a pessoa falecida fosse embora por algum tempo e pudesse voltar a qualquer momento, enquanto outras crianças com sofrimento exacerbado podem associar a morte ao castigo, a culpa (como se elas fossem causadoras do “problema”), a ansiedade/medo ou mesmo ao contágio generalizado.

Entre os 5 e 10 anos de idade aproximadamente asChildren 6 to 10 years old believe death is real and permanent. crianças podem entender que a morte é real e permanente, ainda que a própria mortalidade não seja completamente compreendida. Os filhos podem criar neste período brincadeiras recorrentes (ex: “…estou morto deitado no chão”, “…sou morto invisível”, etc.), nas quais o entendimento do tema se faz. Os pais não devem repreender tais brincadeiras, ao contrário, devem acolher e deixar que elas aconteçam livremente para que o processamento da morte possa ocorrer naturalmente.

Children this age may view death as a violent thing.Depois dos 10 anos as crianças podem compreender que a morte poderia acontecer com elas próprias e assim começam a perceber que as pessoas sabem que naturalmente vão morrer. As crianças entendem que o envelhecimento, as doenças e acidentes podem levar à morte e naturalmente se interessam em saber mais sobre os aspectos causais/biológicos envolvidos no morrer e os detalhes de rituais de passagem cogitados pelo entorno (familiar, escolar, mídia, etc.) como o funeral, velório ou missas. As crianças que sofrem demasiadamente com o tema podem desenvolver um quadro de ansiedade da separação, de fobias e de angústias associadas à incerteza/preocupação a respeito da possível ausência dos seus cuidadores.

Os filhos pequenos apresentam a natural dificuldade de expressar o que sentem verbalmente, mas certamente se comunicarão por meio de comportamentos. A ausência de um familiar próximo como um avô ou avó pode eliciar irritabilidade/agressividade/irritação/impaciência como expressões de angústia, para a criança, ainda indescritível em palavras. Os pais devem observar a comunicação, prover suporte afetivo e oferecer possibilidades para expressão dos sentimentos (desenhos/pinturas, brincadeiras com personagens, conversas sobre histórias lidas sobre o tema, etc.) para gradativa atenuação da angústia respectiva a perda do ente querido. Quando os filhos identificam o que estão sentindo o conforto vem à tona sinalizando o processo bem sucedido de adaptação.

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Quais as dificuldades que a criança pode apresentar em relação a morte de um parente próximo?

Caso a comunicação dos pais não seja adequada, conforme respostas acima, a criança pode apresentar isolamento e aparente anestesiamento emocional escondendo um importante sofrimento, que muitas vezes notifica desafios de mudanças na dinâmica familiar para que uma melhor qualidade de vida seja gradualmente construída. Podem ocorrer algumas alterações abruptas de comportamento destoantes da dinâmica saudável anterior a perda, que comunicam uma dificuldade emocional. Deve-se atentar, por exemplo, à perda ou ao ganho de peso acentuado sem motivo aparente, à agressividade, à enurese noturna (voltar a fazer xixi na cama), à encoprese (evacuar sem controle do esfíncter), à introversão (quando a criança apresentava alegria e espontaneidade), à tristeza, ao isolamento, ao desânimo para realizar atividades que antes eram prazerosas etc. As crianças precisam atribuir significados para então conseguirem explicar o que ocorreu. É necessário decifrar (interpretar o que está mal escrito) a perda de um ente querido para superá-la e esta superação depende diretamente do tipo de apoio que a família provê com a orientação de especialistas.

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A ansiedade pode prejudicar a saúde de uma pessoa?

A ansiedade é um estado emocional comum e provavelmente tenha sido selecionada como um importante fator para a preservação da espécie humana. Assim como a dor evoluiu para nos proteger de danos imediatos ou futuros, a ansiedade talvez tenha evoluído para nos proteger contra futuros perigos ou outros tipos de ameaças. Assim, a ansiedade tem um papel funcional no comportamento interativo com o meio ambiente, sendo um sistema de alarme e um sinalizador de possíveis ameaças, especialmente quando riscos conhecidos são percebidos. Em outras palavras, como um sinalizador antecipatório de possíveis ameaças, a ansiedade altera de forma vantajosa o pensamento, a fisiologia e o comportamento humano com ajustes para sobrevivência. Contudo, a ansiedade pode variar em intensidade e expressão conforme a importância que se atribui ao risco iminente. Quanto mais ameaçador um evento, maior seria a expressão da ansiedade. Contudo, a relação ansiedade x desempenho deixa de ser vantajosa quando a geração de informações do próprio encéfalo “inunda” as vias sensoriais com prejuízo do processamento dos dados reais, cronificando assim o estado de alerta. Na maioria das vezes isso ocorre diante de situações traumáticas extremas e inesperadas ou de situações cumulativas de ansiedade ao longo do tempo. Em ambos os casos, quando mais cedo tratar a ansiedade, melhor, para que o quadro não dispare sofrimentos mais graves como o pânico, a depressão, fobias específicas, transtornos somatoformes (psicossomáticos), transtorno de estresse pós-traumático, entre outros.

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Muitos só enxergam o defeito do outro no casamento; veja como evitar isso

Amor

05.12.2012 – Casamento em crise

Psicoterapia pode trazer solução para casais

Nos casamentos atuais, o tradicional lema “até que a morte os separe” tem sido substituído pelo “eterno enquanto dure”. Para o psicólogo clínico e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP, Julio Peres, essa mudança de pensamento tornou mais frágil o elo que une o casal. “A visão imediatista e descartável que tomou conta da sociedade permeia também as relações afetivas. Essa tendência acabou afastando a ideia de se construir um casamento sólido que mesmo atravessando uma fase ruim pode sair fortalecido no futuro”, afirma.

Para o especialista, quando o conflito conjugal é contínuo, há uma tendência em culpar o parceiro(a) pelos problemas vivenciados. “Muitas pessoas olham apenas o defeito do outro e entram no que chamamos de processo de vitimização. Em outras palavras, elas não fazem algo para modificar a situação, pelo contrário, sempre esperam que o outro faça.” Porém, quando existe a motivação em superar as adversidades e construir uma nova relação com o mesmo cônjuge, o psicólogo acredita que a terapia de casal pode ser a solução para abrir novos horizontes e traçar novos caminhos.

Segundo Peres, enfrentar as adversidades e assumir a sua responsabilidade em relação aos problemas do dia a dia é o ponto fundamental na direção do equilíbrio trabalhado pela terapia. “Quando a pessoa tem disponibilidade para olhar para si mesma e observar as características pessoais que se repetem nas dificuldades atuais, a identificação da responsabilidade individual fica mais clara e evita que o casal desista ao primeiro sinal de que algo não vai bem”, diz.

Ainda de acordo com o psicólogo, as razões para o desequilíbrio no relacionamento vão desde a imaturidade de casais jovens até a violência, além do visível aumento nas taxas de divórcio pela dificuldade dos gêneros em se adaptarem aos novos papéis no contexto familiar. “Os problemas ocorrem para ambos os lados e, quando os obstáculos não são identificados e superados, os indivíduos encontrarão as mesmas dificuldades no segundo, terceiro ou quarto casamento”, inclui.

Dicas para a solução de conflitos

Para tornar a relação mais saudável, o psicólogo Júlio Peres sugere que o casal compartilhe algumas perguntas para aprofundar a cumplicidade e ampliar o repertório para resolução de conflitos. “Isso é importante para que eles possam se ouvir e buscar soluções para a vida a dois.” Vejam algumas questões que os casais devem fazer um ao outro:

1 – Alguns consideram o casamento um contrato legal entre duas pessoas. Outros, com base religiosa, defendem a ideia de que matrimônio é uma união sagrada e eterna. Há ainda a opinião de que o casamento é uma oportunidade de dividir a vida com a pessoa amada. E para você, o que é o casamento?

2 – Como define companheirismo e cumplicidade?

3 – Quais os cinco valores que considera importantes em uma relação saudável?

4 – O que a vida de casado pode oferecer que a de solteiro não oferece?

5 – Qual a importância de filhos na vida do casal?

6 – Qual a sua opinião sobre a frase “Nenhum outro sucesso pode compensar o fracasso no lar” de David McKay?

7 – Quais são os 10 valores e características que você acha importantes na pessoa com que você convive?

8 – O casamento não significa concordar em tudo, mas administrar as diferenças de forma positiva. Como você poderia fazer isso na prática?

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A tristeza dura, em média, quanto tempo?

Tristeza_DuraçãoEspera-se que a tristeza atenue significativamente após dois meses da ocorrência potencialmente traumática. Caso a tristeza profunda persista por um mês com a mesma intensidade, recomendo que ajuda especializada seja procurada. Vale lembrar que conforme estudos populacionais, a maioria da população sofreu ou sofrerá um ou mais eventos potencialmente traumáticos incluindo perdas afetivas.

O diagnóstico de TEPT realizado assertivamente e a tempo evita a possível cronicidade do trauma e o surgimento de sofrimentos mais severos. Quadros mais conhecidos como o transtorno depressivo são diagnosticados primeiramente sem que o histórico de traumas psicológicos do indivíduo seja investigado. Uma vez que outros transtornos (depressão, pânico, fobias específicas, etc.) podem estar diretamente relacionados a evento ou eventos traumáticos, é muito importante que os profissionais investiguem as possíveis causas traumáticas das pessoas que apresentam sintomas depressivos. A manifestação de pelo menos um outro transtorno, secundário ao trauma, é observada em 88% dos homens e 79% das mulheres, sendo mais comuns a Depressão, transtorno de pânico e fobias.

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Como superar a tristeza?

Nosso cérebro nos permite ver ou perceber o que conhecemos e acreditamos ser possível. A partir de nossas experiências construímos associações e padrões perceptivos. Traumas psicológicos podem exercer significativa influência na manifestação da tristeza em comportamentos como isolamento social, distorções de percepção da identidade pessoal e alterações da crítica e do julgamento. A psicoterapia aplicada a indivíduos que vivenciam profunda tristeza busca dissecar, trabalhar e desconstruir as associações estabelecidas entre os eventos que causaram tristeza e respectivos sistemas de crenças disfuncionais ao momento atual. No processo ativo de aprendizado o indivíduo organiza novas associações terapêuticas em detrimento das anteriores que disparava tristeza.